“O ensino profissional tem de ser socialmente mais valorizado”

A Escola Profissional da Figueira da Foz (EPFF) e o Instituto Tecnológico e Profissional da Figueira da Foz (INTEP) celebraram recentemente os 25 anos de presença na Figueira da Foz.
A gala que assinalou a data contou com a entrega de diplomas aos alunos (anos lectivos 2014-2017) e convívio de antigos alunos, professores, funcionários e direcção.
Esta foi uma oportunidade para conversar com as duas directoras pedagógicas, Ana Vasco (EPFF) e Olga Contente (INTEP).
Em perfeita sintonia, as respostas prontamente dadas por ambas revelam o ambiente de proximidade e interligação entre as duas escolas, sediadas no Centro de Formação Profissional da Figueira da Foz.

Que balanço se pode fazer destes 25 anos de presença na Figueira da Foz?
O balanço é bastante positivo, uma vez que as escolas surgiram como uma alternativa ao ensino regular, com os principais objectivos de formar recursos humanos qualificados de nível intermédio e proporcionar novas oportunidades aos jovens que completavam o 9.º ano, preparando-os para o mercado de trabalho.
Ao longo destes 25 anos, as escolas formaram cerca de 2000 alunos, o que é um número significativo.
Continuamos a ser procurados. Agora são os irmãos ou até os filhos de antigos alunos a quererem inscreverem-se, pois conhecem melhor a nossa realidade.

Na última década têm notado algum aumento da procura na vossa oferta educativa ou os números têm-se mantido?
Há uma maior consciência da mais-valia de um curso profissional. A própria União Europeia estipula objectivos a atingir: em Portugal, a meta é de 60% de alunos no ensino profissional.
O ensino profissional tem vindo a ganhar terreno ao longo das duas últimas décadas e a procura não vai parar uma vez que, actualmente, ainda se verifica a falta de técnicos intermédios qualificados. Contudo, a procura não aumentou tão significativamente como se esperaria.
Para haver mais procura, o ensino profissional tem de ser socialmente mais valorizado . A procura tem-se mantido estável nos anos mais recentes, mas tem-se verificado uma evolução positiva no que respeita à procura por alunos cada vez mais jovens.

Qual a mais-valia do ensino profissional para o actual quadro do mercado de trabalho?
A dupla certificação, ou seja, a equivalência ao 12.º ano e a obtenção de uma certificação profissional, permitindo que o aluno possa integrar o mercado de trabalho ou optar pelo prosseguimento de estudos.
Além disso, o ensino profissional combate o abandono escolar, pois há muitos jovens que não se revêem no ensino regular até aos 18 anos, altura em que a escolaridade deixa de ser obrigatória.
O ensino profissional torna-se uma alternativa para os jovens que sabem que a escola é importante, mas que se sentem atraídos desde muito cedo pelo mercado de trabalho. Os conhecimentos práticos dizem-lhes muito mais do que a teoria.
O mercado de trabalho precisa destes jovens, cujo objectivo de vida, na sua maioria, não passa pelo ensino superior. A Formação em Contexto de Trabalho (FCT), obrigatória nos cursos profissionais, permite este primeiro contacto com o mundo do trabalho, abrindo portas aos jovens e às empresas. São eles que irão executar, “pôr as mãos na massa” e, se forem qualificados, o mercado de trabalho não “gasta” tanto tempo a ensinar, e isso é uma importante mais-valia.

De que forma são seleccionados os cursos a ministrar?
No caso da EPFF, a escolha de cursos ligados à restauração e à hotelaria continua a ser uma aposta forte: com o crescimento do turismo no nosso país e no mundo, os técnicos qualificados nestes sectores continuam a não ser suficientes para fazer face às necessidades verificadas.
Por outro lado, o próprio Ministério da Educação continua a elaborar estudos com o objectivo de ajustar os cursos oferecidos pelas escolas às necessidades de mercado de cada região e estes resultados têm de ser tidos em conta no momento das candidaturas por cada uma das escolas.

Há algum tipo de auscultação do mercado de trabalho local ou regional?
Sim, a auscultação efectua-se através dos estudos do Ministério da Educação, mas a escola também se preocupa em fazer esse trabalho de diversas formas: junto dos parceiros empresariais e de Formação em Contexto de Trabalho (FCT), através de conversas informais e de reuniões de conselho consultivo para os quais são convidados; de inquéritos enviados às empresas que acolhem os nossos estagiários; de pedido de pareceres para a abertura de novos cursos a empresas das respectivas áreas de formação; a auscultação do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP); e, ainda, através da medição da taxa de empregabilidade dos alunos diplomados.

Onde estão sediadas as empresas que normalmente aceitam os vossos alunos para estágios?
As empresas que acolhem mais alunos estagiários encontram-se no concelho da Figueira da Foz, concelhos limítrofes, mas também trabalhamos muito com Coimbra, Lisboa e com a região do Algarve. Por vezes, também estabelecemos protocolos de estágio com empresas no estrangeiro, em países como a França, Luxemburgo ou Itália.

Na prática, em que difere o vosso modelo de trabalho do ensino dito tradicional?
A componente prática dos cursos é, de facto, colocada “em prática” através de actividades adequadas ao perfil de saída dos cursos (ex. participação em concursos regionais e nacionais específicos de cada área), dentro e fora da escola, de forma a aplicar os conteúdos teóricos, e esta realidade é exercitada durante todo o ano lectivo.
O nosso modelo de trabalho procura, ainda, o apoio das empresas para que a diferença entre a formação ministrada e as necessidades do mercado de trabalho se esbatam e as expectativas de alunos e empregadores sejam aproximadas.
Para além disso, os nossos alunos referem que há uma maior proximidade entre professores e alunos em comparação com o ensino dito tradicional.

O facto do universo discente ser relativamente pequeno confere-vos uma proximidade que se possa traduzir num acompanhamento mais directo?
Sem dúvida que um número de alunos médio possibilita uma relação mais estreita entre todos os membros da comunidade escolar, facilitando as relações e o apoio prestado, que se torna mais individualizado, beneficiando o aluno.
Formamos uma equipa de trabalho na qual haverá sempre, pelo menos, um professor que seja um porto seguro e mediador para resolver qualquer situação mais preocupante.

Sendo directoras pedagógicas, qual a vossa relação com o corpo docente?
O corpo docente mais antigo é empenhado e estável, pelo que o know-how e experiência de cada um constituem os pontos fortes da equipa.
Com os formadores mais jovens, a relação tem de ser trabalhada mais proximamente, para que o trabalho por eles realizado vá ao encontro do nosso projecto educativo.
Isso faz-se com a organização conjunta de actividades entre a direcção e os formadores que seleccionámos para o efeito e, ao mesmo tempo, se fomenta o espírito de grupo e o sentimento de pertença.
O nosso corpo não docente enquadra-se neste espírito.

E com a administração?
A relação com a administração é profissional, mas também próxima na resolução de questões de ordem técnica ou pedagógica que possam surgir.
Definidos os objectivos pedagógicos a atingir e a forma de o fazer, foi-nos dada autonomia para gerir da melhor forma o projecto educativo da escola.

A escola está dotada das condições necessárias para o desenvolvimento da vossa actividade?
Sim, e isso é uma das nossas mais-valias em relação a outras escolas com cursos de ensino profissional. O investimento tem sido contínuo, dentro de uma gestão planeada, e as instalações são recentes.

“TRABALHAMOS PARA A IGUALDADE” – OLGA CONTENTE

“O ensino profissional, e a nossa escola em particular, trabalha no sentido de dar oportunidades iguais a todos os alunos, ou seja, todos os nossos alunos são importantes e devem ter a oportunidade de atingir o sucesso, concluindo o curso.
Nesse sentido, e graças à aproximação mais personalizada, é possível adaptar certos conteúdos programáticos aos interesses e vivências dos alunos. Por exemplo, o tema da Prova de Aptidão Profissional é escolhido pelo aluno, adaptando os seus gostos pessoais ao curso que está a frequentar. O aluno pode escolher o local onde pretende realizar a sua Formação em contexto de trabalho, tendo em conta, entre outros factores, os seus interesses, mobilidade, perspectivas de futuro. Se o local corresponder aos objectivos da FCT, a escola trata das parcerias necessárias.
O facto de os alunos terem direito a refeições gratuitas no refeitório da escola, bolsa de transporte/ alojamento permite que os alunos carenciados tenham possibilidade de frequentar a escola até ao 12º ano.
Além disso, fomentamos uma cultura em que homens e mulheres tenham direitos e deveres iguais, tendo sido realizadas várias acções contra a violência doméstica e no namoro”.

“AQUI O EGOÍSMO PRÓPRIO DA ADOLESCÊNCIA ESBATE-SE” – ANA VASCO

“Ao contrário do que se verifica noutras escolas, a maioria dos nossos jovens vai-se tornando menos egoísta, fruto dos valores de partilha e de trabalho em equipa que são fomentados na escola, sobretudo através das aulas práticas executadas em pequeno grupo. As actividades entre turmas proporcionam o conhecimento dos colegas de outras turmas e obriga à interajuda.
A competição pela melhor média não é assunto tabu, mas também não é uma prioridade. Nas actividades importantes, os melhores ajudam os que revelam mais dificuldades.
A escola é, também, um espaço de solidariedade, envolvendo toda a comunidade em acções pontuais, tais como a recolha de alimentos e os peditórios a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro e da Assistência Médica Internacional (AMI)”.

OFERTA FORMATIVA

Para o próximo ano lectivo, a EPFF irá apostar numa oferta formativa centrada no Ensino Profissional – Nível IV, nomeadamente nos cursos de Técnico de Cozinha Pastelaria; Técnico de Restaurante Bar e Técnico de Turismo Ambiental e Rural.
Os Cursos de Educação e Formação de Jovens (9.º Ano) respeitam à vertente de Empregado de Mesa, tipo 3.
Quanto ao INTEP, a oferta formativa para 2018-19 centra-se no Ensino Profissional – Nível IV, com formação de Técnico de Comunicação, Marketing, Relações Públicas e Publicidade; Técnico de Electrónica, Automação e Computadores; Técnico de Apoio à Infância e Técnico de Massagem de Estética e Bem-Estar.

(Jorge Lemos)

COMENTÁRIOS

ou registe-se gratuitamente para comentar.
Critérios de publicação
Caracteres restantes: 500

mais

QUEM SOMOS

O «Figueira Na Hora» é um órgão de comunicação social devidamente registado na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Encontra-se em pleno funcionamento desde abril de 2013, tendo como ponto fulcral da sua actividade as plataformas digitais e redes sociais na Internet.

CONTACTOS

967 249 166 (redacção)

geral@figueiranahora.com

design by ID PORTUGAL