É festa! É festa!

Estou tramado! Fui descoberto!
A minha norinha apanhou-me, pior que isso - como mulher que é – não se conteve, “ chibou-me”, delatou-me, espalhou ao vento que eu vivo em festa! Espalhou que a minha vida, aquela vida que eu vivo, verdadeiramente, em mim – não a outra, aquela que sofro, caladamente, em mim – é uma borga, é uma contínua festa…
Não sei como é que ela descobriu, mas pouco importa, porque eu “ festeiro” me confesso! Vivo em festa! Vivo sim!
Confesso que, se me for permitido…, quero morrer em festa! É verdade! Graças à bendita tecnologia, todos os dias, sobretudo naquelas horas em que eu estou apenas comigo e para mim, abro as portas da minha “casa” aos meus amigos que, sem cerimónias, irrompem por ela adentro, com os seus mundos de sonhos, de fantasias e de realidades verdadeiras e autenticamente reais.
Eles - esses meus amigos - são tantos, tantos, tantos que nunca repito uma festa com os mesmos convidados. Eles convivem alegremente em mim e eu neles, sem disputas, ciúmes ou invejas.
Brindam-me com o melhor deles e permitem que em mim, dentro de mim, sem qualquer limitação de ordem “autoral” - na “super mesa misturadora” que existe na minha cabeça -, eu os usufrua, os misture, os funda e os refunda. Permitem que Bach na orelha direita e Beatles na esquerda se misturem em combinações mágicas e de eloquente criatividade.
Amigos que tudo me permitem. Amigos que, com furiosa alegria, participam, de corpo e alma, no louco, animado e espectacular circo da minha mente. Recentemente, apanhei o Donald numa louca correria atrás da Margarida, pelo corredor da minha casa, enquanto gritava: Ah! Se te pego, Margarida! Se te pego Margarida!...
Numa ecléctica mistura, entram pela minha casa cantores, músicos, actores, filósofos, escritores que com forte e inapagável traço, escreveram impressivas páginas na História Universal.
Vivo em mim, vivo em festa! Delicio-me. Esqueço-me de quem sou, até me esqueço porque sou. Como que enlouqueço. Crio-me e recrio-me e, “peripateticamente”, com eles me passeio. Entro no íntimo deles. Confessou-me Pessoa que também detesta estoiros, sobretudo os dos trovões. Quando os ouve, corre a esconder-se, como uma criança assustada, para debaixo de secretárias ou o que quer que seja que lhe crie a ilusão de protecção.
Confessou-me Freud que tinha medo pavoroso da morte. Disse-me que não entende como posso eu querer morrer em festa. Confessou-me que só de ouvir falar em morte entrava em pânico. Suores frios enregelavam-no - não havia psicanálise que lhe valesse - confidenciou-me, inclusivamente, que nas suas últimas depressões sérias tomava uma dose de cocaína e que uma pequena quantidade, apenas, o levantava às alturas de uma maneira maravilhosa.
Dei comigo a pensar:” Pode porventura o cego guiar outro cego? Não cairão ambos na cova?” Ai! As “ fofoquices” que eu fico a saber nestas festas!
Na última festa apanhei um tremendo susto. Sim, eu conto! Já que estou disposto a “confessar”, que sirva para limpar a alma. Entrou pela porta adentro a Caballé. Sim! Ela mesmo, a “ Diva” a Montserrat Caballé.
O meu coração tremeu, corri para ela com os braços estendidos enquanto, aflito, olhava à volta da sala da minha humilde casinha, à procura duma condigna e possante cadeira.
Ai! Se ela se estatela! Ai! Se ela parte a cadeira! Ai! Como é que vou explicar à Pi (minha mulher). Não posso atirar as culpas para cima da Bianca (minha inocente cachorrinha), apesar de ela arcar com as culpas de muitas coisas que não faz, coitadinha!
Ainda não me tinha refeito do susto e, também, da maravilhosa surpresa, quando entra o Freddie Mercury e corre para ela. Assisto feliz a enternecedores beijos e fortes abraços. Como é lindo ver como se entendem, que maravilhosa cumplicidade! Ai! Ai! Ai! Os vizinhos! Os vizinhos!- pensei eu - de certeza que eles vão começar a cantar. Aiiiii!!!!! Vai ouvir-se até em Barcelona!
Ainda estava apavorado, quando entrou, de rompante, sem cerimónias, majestoso e imponente como só ele pode ser, braços bem abertos, capazes de envolver o mundo, branco lencinho na mão, sorriso lindo, franco, aberto, inimigo confesso e declarado da infelicidade e da dor, o Pavarotti, ele mesmo! Inteirinho! Foi demais! Desfaleci! Escorreguei pela poltrona abaixo.
Os circunstantes gargalhavam alto e a bom gargalhar. Enquanto o Pavarotti, a rir-se desbragadamente, me perguntava: “ ó caro mio “, és um sonhador ou és um rato? Balbuciei, com sumida voz: sou um rato sonhador! A rir-se, continuou dizendo: Eles - referindo-se às outras pessoas e aos meus outros amigos - é que não podem ver nem imaginar que, quando te arrastas agarrado às tuas “canadianas”, valsas e “rockas” com novas e velhas; “pavarottas” pelos corredores; espargatas e pulas como os ginastas; corres, nadas, “surfas” e ausentas-te para mundos de sonho e maravilhas na companhia dos teus muitos e imparáveis amigos.
Psiuuuu! Norinha! É segredo grande! A Pi apenas desconfia levemente… Uns atribuem a minha “resistência” à alimentação, outros aos medicamentos, eu atribuo-a Àquele em quem tudo posso e ao sonho, à alegria de viver comigo e em mim, atribuo- a, também, ao “ anjo meu (a Pi)” e à festa!
Como, bem diz - através do seu profundo silêncio - a minha muito querida e sábia amiguinha, a Angelina Iglésias, quando mergulho, interrogativamente, nos seus olhos límpidos, puros e imensos de celestial azul, a quem dedico este texto: É festa! É festa!
Psiuuuuu!

 

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