A carta

A força das marés, não se mede com a brusquidão que sentimos a lés, mas sim como elas acabam por vir devagarinho a molhar as pontas dos nossos pés.
O arrastão das marés, mostra que até quando tudo se desmorona, aparece sempre um curioso ser a tentar amar-te e perceber-te como tu és.
A lua que tu usas para controlar as marés é a mesma que devias olhar e amar com tudo aquilo que és. Afinal, esses cálculos que usas, pouco valem para a beleza que és.
Agora tu estás numa paragem, e eu perdi a minha margem. Este estranho amor, que respiro no dia-a-dia, virá para ti um dia no cheiro duma flor, na verdade no Mundo há poucas para aquelas que eu te queria.
Por isso nunca te dei nenhuma, eram poucas, muito poucas, e nenhuma te resumia. Sei e sinto muito, o quão te magoei com tanta palavra, na verdade foi na tristeza que vi e percebi que tu confiavas em mim, e eu perdi esse voto, e, por isso, ando todo absorto de ideias por ter o coração tão roto.
Tu nunca percebeste o porque de muitas das minhas palavras, hoje digo-te, comecei a chamar-te nomes quando começaste a nomenclar-me de você, e, quanto mais você tu punhas na meia dúzia de palavras quase monossilábicas que, de vez em vez, proferias, mais nomes eu te chamava.
Usei palavras feias para ti, mas também não conheço nenhuma dita bonita, que seja exequível para te traduzir a beleza que tenho e guardo de ti.
Aqui a sua inteligência, de inteligência pouco tem, sou um ser por demais emotivo. Na calma das minhas noites, jurei a mim mesmo, várias vezes, não te dizer mais nada, mas as palavras valem o que valem.
E eu, não tendo nada para te dar, nenhum materialismo, nenhum tracejado de vida que tu possas adornar na tua forma tão linda e única, ainda adormeço a olhar para a lua, com a minha cabeça na almofada com o teu nome. Às vezes penso que o teu nome é lindo demais para uma almofada, que essas sílabas agregadas são muito mais que um depósito onde eu encosto a cabeça, e onde adormeço os sonhos.
Noutras, penso que tenho uma bela almofada, pois olho para ela e vejo a tua cara, o meu grande sonho. Chegaste a dizer-me várias vezes que eu não gostava de ti, que era uma ilusão minha, ou que a vida não era amor e uma cabana. Pois olha, sempre quis ter uma cabana, e quero, já amor tenho muito, mesmo muito. Espero que sejas muito feliz.
Seria falso se não te dissesse que ando triste, mas a vida, do pouco que me ensinou, ensinou-me que nós não pertencemos a ninguém e pertencemos a toda a gente.
Sabes bem que pouco me importa o que possas pensar de mim, mas como com a tua pessoa, eu penso assim em relação a todo o mundo, porque eu sou assim.
Creio que tenho um mundo só meu, e nele só habita quem eu amo, e, quem eu amo é meu. Só meu. É assim. Dói o estado que ficaram o meu ar e o teu chão. E quero, quero muito que para sempre, fiques com um cantinho meu, pode ser pequenino, pode ser escondido, mas meu. Meu. É só.
Às vezes na almofada chego a pensar que me amaste, mas num amor diferente, um amor de razão, obrigado se isso é verdade, obrigado mesmo. E obrigado se não. É só. As palavras valem o que valem. Ah! Estou a construir com a saudade um sem fim de números, mas não sei, nem nunca soube usar essas calculadoras que tu usas, e, se algum dia eu precisar duma mulher de contas, eu chamo-te.
Talvez aí, numa relação profissional como tu tanto gostas, e que eu tanto odeio, consiga dizer-te na cara, olhando para a curva acentuada do teu nariz, que divide os teus glóbulos oculares encaixados perfeita e simetricamente por hastes com lentes perfidamente limpas, que sou o empresário mais rico do Mundo.
Pois só vivo só de amor, e amor é todo o Mundo.
É só.

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