Era uma casa muito engraçada, tinha tudo, até parecia que não lhe faltava nada!
Era uma casa muito engraçada, tinha tudo, tinha paredes, portas, janelas, telhado até parecia que não lhe faltava nada!
Era uma casa muito engraçada, mas que não tinha espelhos, embora do restante não lhe faltasse nada!
Era uma casa muito engraçada, cheia de vaidades e imodéstias, onde morava um nu que apontava o dedo aos rotos porque ela não tinha espelhos e o nu, de si, não via nada!
Que engraçadas se tornariam as casas, se todas tivessem espelhos, assim não lhes faltaria nada!
As casas com espelhos são muito engraçadas, porque não lhes falta nada, e, quando os nus habitam nelas, eles não se tornam ridículos, porque não apontam o dedo aos infelizes rotos.
As casas com espelhos são muito engraçadas, elas têm tudo, não lhes falta nada, nada, nada!
As casas sem espelhos, mesmo quando feitas com muito esmero, ficam sempre na Rua dos Bobos e têm todas o número zero como aquela Casa que maravilhosamente cantou o incomensurável Vinicius de Morais.

*Este texto foi escrito segundo os termos da ortografia anterior ao recente (des)Acordo Ortográfico.