Há dias estava a jantar com uns amigos, quando, natural e inevitavelmente, a conversa descambou para a política e, inevitavelmente, se exaltaram os ânimos porque defendi que as condições do trabalho, a estrutura e a orgânica social modificaram-se de tal forma, que é absolutamente errado continuar a analisá-la e a raciocinar com o pensamento e com as "ferramentas" de Karl Marx e Friedrich Engels e muitos outros ilustres idos que nos foram tão úteis e tão preciosos e cujas ideias nos foram tão preciosas e tão úteis.
Se continuarmos com este tipo de análise e de raciocínio, viveremos e morreremos sem nunca conseguirmos equacionar correctamente o problema e, muito menos, conseguiremos resolvê-lo.
A “ordem” do mundo, tal como o conhecemos há quarenta ou cinquenta anos atrás, não era natural nem imutável, pese embora muitos tenham morrido convencidos de que assim era.
A história tem demonstrado que a humanidade, regra geral, gasta mais tempo a equacionar um problema do que aquele que leva depois para resolvê-lo.
É mais do que uma regra básica, é mais do que uma regra elementar, é um princípio, é uma lei universal da matemática, é uma lei dessa precisa ciência que determina que: para se resolver qualquer questão, para se resolver qualquer problema, em primeiro lugar é preciso entendê-lo, é necessário equacioná-lo corretamente.
Vou elencar algumas constatações que considero serem muito úteis para ajudar a equacionar o problema que gerou aquela discussão.
O patrão, aquela figura que dava a cara perante os seus trabalhadores, quase desapareceu. O que resta dela nos dias de hoje, quase não tem expressão nem relevância. Podemos dizer que os trabalhadores estão órfãos duma referência patronal.
A figura do patrão tem vindo a ser substituída por uma figura difusa, sem rosto humano, escondida atrás das S. A ( Sociedades Anónimas (de natureza comercial)) que são a nova face do Capital ou da nova organização dos fluxos financeiros.
Esta, aparentemente simples alteração, teve repercussões dramáticas e drásticas em toda a estrutura e organização social que conhecíamos há cinquenta anos atrás.
Com esta mudança desapareceu, ou pelo menos, esbateu-se significativamente a noção de estratificação social. Com esta mudança, criou-se uma abstracção, uma estratificação social amorfa, uma espécie de saco indiferenciado a que chamam classe média que nada é, que não tem identidade e, consequentemente, não tem poder reivindicativo.
Pior!, o único valor norteador desta abstracção está no seu umbigo e, nela impera a lógica do "eu contra todos". Quando ela passou a fazer o jogo do capital...liquidou-se!
Os manipuladores do Capital, hábil e paulatinamente foram introduzidas divisões entre os trabalhadores (públicos/privados; com vínculo/sem vínculo/; antigos/novos; lincenciados/nãolincenciados; etc...) que "desmantelaram" os sindicatos, apesar deles continuarem a existir. Fizeram-no com a deliberada intenção de os dividir e enfraquecer. Hoje assistimos a sindicatos contra sindicatos. Impensável!
Também o crescente desemprego intencional e deliberadamente provocado veio a contribuir decisivamente para o enfraquecimento dos sindicatos e para o correspondente aniquilamento do poder reivindicativo dos trabalhadores.
O crescente desemprego é aprofundado pela contínua substituição da força e da inteligência humana pelas máquinas. Nem eles, os sindicalistas, nem nós, os comuns trabalhadores nos apercebemos a tempo desta estratégia e, depois de nos termos apercebido, continuamos a não destruir as máquinas, as portagens sem portageiros e tudo o mais... Deixamo-nos morrer devido à inércia do nosso comodismo.
Agora, parecem apostados em destruir a "inteligência". Agora o alvo são os professores e, todos nós, estamos passivamente a assistir à sua agonia como se ela nada nos afectasse..., como se, no mínimo, não tivéssemos especiais obrigações para com eles....
Chegámos a um ponto em que alguns sindicatos estão destituídos de poder reivindicativo, funcionando dentro duma lógica de pequena empresa, tentando apenas preservar os postos de trabalho dos seus trabalhadores/ estrutura...
Existe muita gente, existem muitos analistas políticos e muitos políticos cujo pensamento está anquilosado, está estagnado no tempo e raciocinam nos mesmos moldes e com as mesmas premissas dos anos idos há cinquenta anos. Eles estão desfasados, estão errados e por isso comentem erros gravíssimos com consequências inimagináveis...
No século passado ocorreram várias revoluções, às quais chamaram revoluções do proletariado. Supostamente visavam a destruição do Capital encoberto sob a máscara do capitalismo.
Essas revoluçõs saldaram-se em milhões de mortos!
Essas revoluções conseguiram mudar as condições de vida de muitos milhões de seres humanos. Representaram passos gigantescos para a humanidade. Pularam etapas no desenvolvimento social que significaram séculos de avanço, queimaram etapas e, no entanto, sucumbiram todas perante o seu arqui-inimigo - o CAPITAL (travestido de capitalismo). A China é a mais trágica e feroz comprovação daquilo que disse.
Ainda hoje, o homem não consegue furtar-se à "escravização" do capital, porque ele ainda não entendeu que o dinheiro em si, é uma energia extraordinariamente forte, com um fluxo bem definido e que se transmuta continuamente com vista à manutenção da sua essência e fins.
Como é que é possível incutir estes conceitos em espíritos trancafiados nos conceitos do materialismo histórico?
A humanidade só neutralizará o capital, só aniquilará as suas perversidades, quando interiorizar que ele é uma energia, passando, então sim, a poder entender a sua natureza e os seus fins. Nessa altura, o homem mudará muitos aspectos da sua natureza e retirar-lhe-á a força e aniquilará a essência daquela energia.
Repito o que disse: "A história tem demonstrado que a humanidade, regra geral, gasta mais tempo a equacionar um problema do que aquele que leva depois para resolvê-lo.
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É mais do que uma regra básica, é mais do que uma regra elementar, é um princípio, é uma lei universal da matemática, é uma lei dessa precisa ciência que determina que: para se resolver qualquer questão, para se resolver qualquer problema, em primeiro lugar é preciso entendê-lo, é necessário equacioná-lo correctamente."
Reforço! O dinheiro compra a água que mata a sede, mas ele não é a água que mata a sede!
Pior! Presentemente, o dinheiro que compra a água que mata a sede, mas que não é a água que mata a sede, ele impõe que, por sua falta (por falta de dinheiro) muitos milhões de seres morram à sede!
Fiz-me entender? - Então eu repito: "A história tem demonstrado que a humanidade, regra geral, gasta mais tempo a equacionar um problema do que aquele que leva depois para resolvê-lo.
É mais do que uma regra básica, é mais do que uma regra elementar, é um princípio, é uma lei universal da matemática, é uma lei dessa precisa ciência que determina que: para se resolver qualquer questão, para se resolver qualquer problema, em primeiro lugar é preciso entendê-lo, é necessário equacioná-lo correctamente."
*Este texto foi escrito segundo os termos da ortografia anterior ao recente (des)Acordo Ortográfico.
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