Pegadas na areia

sempre que nos sinto falta
procuro as nossas ondas
gosto do misto de emoções nostálgicas e sombrias
dos efeitos do tempo e dos tempos em de, feito
quando ao meu mar tua me ias
quando na tua areia me apetecias
onde me fui fundeado a peito no peito
como as ondas que batiam nas rochas
quando tu não vinhas
as ondas vão fazendo um caminho paralelo ao meu na areia
que são, foram, seriam
tuas - minhas
aí sou todo teu
todo eu dei ideia
todo burro nessa areia
vejo pegada ante pegada a desfazer-se no areal
dou-me ao luxo de perdê-las por entre a espuma das ondas
acabando por derramar o que um dia foi nosso
beijos na quentura do osso
ira
birra
gracejo
encosto
de mar vejo
de mar beijo
do mar só não vejo
o beijo que não é nosso
como me és má no bom que fazes
como me sou bom no mal que te ages
vejo ondas e pergunto-lhes
ainda me ciciam?
eu ainda te respiro
a tua cara
o teu beijo pintado de grãos em grãos de areia,
espetado ao início, meio e fim de passadeira
por uma vara
o teu corpo de mulher de quase não feia
rodopiando e agarrando pegadas na areia
vejo tudo, mais isso a raiar lá bem no fundo,
bem mais longe do que consigo abraçar
nem um amplexo profundo chega para eu o agarrar
sabes, sinto-me um tolo por vir sempre aqui parar
sentir a vida quando ela me teima em descontinuar
o que sinto e não sinto por ti
olho as pegadas uníssonas que não sabiam que ambos íamos embarcar
para um mundo entre dunas
sim… eu prometo, um dia hei-me continuar
hoje, particularmente hoje
não sei porquê, mas hoje, hoje, hoje
sim, hoje
a praia está em perfeita harmonia comigo,
um dia belo, não estético, singelo e vazio
sem possível paralelo de “olá menino”
nem chapéu aberto para combater fogo desamigo
e as ondas, hoje, as ondas
as ondas hoje
as suas forças esmagadoras
que tentam por vezes aos outros chegar
só com o intuito de mostrar a força e delicadeza do mar
porque um dia fizemos do amor, mar
hoje vejo essa abundância
de estar e não estar
e olho para trás e vejo-me criança
sem saber ao certo como na areia brincar
vejo-os, alguns vão ao mar
beijo-os, de longe vão devagar
o mar que muda por vezes lentamente
por respeito a nós
só porque um dia foram nossas aquelas ondas

 

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