Aprendi a beleza das cores nesta cidade. Vivi durante anos em Coimbra, onde comecei o caminho que me trouxe até aqui; hoje, vivo em Lisboa e venho a casa - digo casa, por ser onde os abraços me trazem, onde o cheiro a café pela manhã, os lençóis lavados e o carinho me fazem perceber ser a este lugar que pertenço - para descansar da esquizofrenia dos dias numa grande cidade. Aqui tudo me parece pertencer: a areia solta, o horizonte, os barcos, o cheiro a iodo das marés vazias, o carinho dos velhos que não esquecem a minha cara e de quem sou filho e neto. Aqui não sou uma incógnita, alguém que apareceu por acaso. Sou alguém que faz parte. Pertencer deve ser isso mesmo: fazer parte.
Fui, recentemente, convidado pelo Jorge Lemos a escrever para esta página. Um convite que aceitei com muito orgulho. Durante anos senti-me um pouco à margem, nesta cidade. Via-me a caminhar, a receber o carinho de outras cidades que não a minha, o reconhecimento de outras pessoas que não aquelas que conheço. Hoje, ao que parece, os olhos começam a estar na minha direcção. Raramente escrevo directamente sobre a cidade. Não lhe uso o nome mas, perdoem-me a ousadia, uso tudo o resto: as belas cores das manhãs de primavera da minha infância, os cheiros a peixe fresco acabado de sair do mar, a inexplicável rebeldia deste horizonte que une céu e mar e me deixa sempre a pensar no que será depois.
O primeiro passo é o mais difícil - sempre me disseram. Aqui está ele.
Comecemos.
Inicie sessão
ou
registe-se
gratuitamente para comentar.
|
O «Figueira Na Hora» é um órgão de comunicação social devidamente registado na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Encontra-se em pleno funcionamento desde abril de 2013, tendo como ponto fulcral da sua actividade as plataformas digitais e redes sociais na Internet.
design by ID PORTUGAL