Pum! Pum!! Pum!!! Viva 2018!!!

Restavam cinco minutos de vida a 2017 quando casualmente olhei para o descontador do tempo que comigo trago sempre no pulso. Sempre a descontar, comigo dorme, comigo vai para a mesa e até para o banho. Não tenho como lhe escapar porque mesmo sem ele, o marcado tempo continua sempre, sempre a descontar.
Já só restavam cinco minutinhos de vida ao moribundo 2017 que, apesar disso, impassível no seu afã, continuava, entre muitas outras coisas próprias da vida, a trazer novas pessoas ao mundo e a levar, incansavelmente, muitas pessoas deste mundo. Dir-se-ia que estava determinado a fazê-lo até ao último milésimo de segundo!
Lá fora e em todo o mundo, pessoas e pessoas e pessoas e pessoas somadas aos biliões, num doce e iludido desvario, gozavam já, ou preparavam ainda, a despedida do décimo sétimo ano deste novo milénio. No primeiro segundo do décimo oitavo ano, este milénio entraria no primeiro ano da sua maioridade legal.
2018 será, assim falando, o primeiro ano da maioridade, deste ainda jovem milénio!
Lá fora, dentro de cinco minutos, milhares de pessoas, com garrafas de espumante debaixo do braço, com doze passas apertadas numa das mãos, já muito animadas pela alegria induzida por vapores de muitos álcoois em conflito misturados, empurram-se discretamente, na luta pela primazia do melhor ângulo para, de cabeça inclinada para trás e queixo em "looping ascensão" espetado, começarem a contar regressivamente a partir do dez.
Essa contagem culminará, misturada com os estoiros de espumante, misturada com o fogo de artifício de milhares de coloridas lágrimas no céu despencadas e misturada com as outras lágrimas salgadas escorridas pelas faces e afagadas por beijos e apertados abraços esconjuradores de sofrimentos ou de maus pressentimentos. Umas e outras escorrerão seladas por palmas, assobios aos milhares, cornetas barulhentas e vivas, vivas, vivas e Viva 2018!!! Feliz Ano Novo!!!!!, muito mais que duas mil de dezoito vezes repetidos!
Que paradoxo! Somos dos vivos, os únicos seres que sabem que a vida é desconto, que a vida é caminho..., que a vida é inexorável aproximação da morte e, no entanto, indiferentes, numa inconsciência total, num delírio colectivo, celebramos com euforia, com canhonadas de espumantes, atroadas de foguetes, tampas de panelas, buzinões, roncas e tudo o mais que assuste e espante alegremente a morte do tempo, a morte de trezentos e sessenta e cinco dias da nossa vida. Seremos insanos?!?
A primeira balada do novo ano, atesta a morte do anterior. Este é o único funeral que é celebrado com abraços fortes, abraços de não menos forte alegria, estoiros, fogos de artifício, bailes, beijos, olhos raiados de emoções puras de felicidade, felicitações, rasgados parabéns e muito, muito...de todo o tipo de excessos, sabendo todos os participantes, de antemão, quem é o confesso assassino!
Todos nós, "comemorantes" ou não, conscientes ou não, aproximámo-nos mais um pouquinho do derradeiro momento. Muitos, sem o saberem, acabaram de passar, acabaram de comemorar o fim do seu último fim de ano. Reverso e anverso são as duas faces da mesma moeda. Olhando para o anverso, pergunto-me: o que seria do ser humano sem esta inconsciência? A morte é um "certus ab incertus". Pessoalmente, no que a mim diz respeito, não sei dizer se a maior angústia está na certeza da morte ou, se está na incerteza do seu quando. É essa incerteza do quando que cria a ilusão da imortalidade. É esta incerteza do quando que nos permite celebrar com alegria, com festa, o cada vez menos..., o cada vez menos tempo que nos resta de vida.
Curiosamente, não comemoramos aquilo que afortunadamente já vivemos. Comemoramos, insensatamente, um porvir minguado..., um porvir que míngua cada vez mais, um porvir de desconto feito...
Compreenderia, aceitaria facilmente esta postura, este comportamento se, sociologicamente, a nossa concepção da vida e da morte fossem diferentes. Compreenderia se não nos pungíssemos com a morte, se víssemos a vida apenas como um fardo, como um castigo, como um sofrimento que urgisse abreviar e se, pelo contrário, concebêssemos a morte como um portal para a felicidade, a passagem para o paraíso garantido! Acontece que a visão comum não é esta!
Até parece que o nosso inconsciente carrega uma informação secreta e subliminar que diz que o devir é a libertação, que nos inculca que nele, no devir, está a verdade, que nele está o melhor de tudo, que a carne são as grades do verdadeiro inferno, que essas grades nos prendem na miséria ilusória que é esta vida, que a carne nos prende nos horrores desta MATRIX !
Será?!? Será ?!? Será?!?...
Será que esta vida é a última fronteira antes da fronteira do EDEN? Do lugar onde de novo nus, nus, libertamente nus de tudo, seremos readmitidos na nossa verdadeira condição no universo?
Será?!? Será?!? Será?!?...
Não puderam, com certeza, os biliões e biliões de seres humanos que nos precederam e, não podem, com certeza, os biliões e biliões nossos contemporâneos estarem completamente enganados e celebrarem tão inconsciente e irracionalmente este caminhar firme para Ela...
Estará guardado algum segredo no nosso "suposto lixo cromossomático" ou neste cérebro que dizem, estar artificialmente fendido, para que as metades assim obtidas não funcionem correctamente como um todo e fiquem aquém, muito aquém, das suas potencialidades?!? (Atenção! Estas conjecturas parecem confusas, parecem até, convenientemente demenciais, mas é intencional...pensem...busquem!!!...).
Em suma! No final de cada ano, eu festejo com gratidão, festejo como se me despedisse dum amigo. Festejo por tudo aquilo de bom que ele me proporcionou! Faço uma festa de gratidão por ele se ter cumprido e por ter sido comprido..., completamente alongado na minha vida. Acho decididamente que, por tudo isto, ele merece uma festa, merece uma verdadeira festa, merece o meu saudoso respeito! Mas..., mas também escorraço com raiva, com dor, aqueles anos que me levaram entes queridos ou amigos do peito. Nesses casos, vingo-me, festejo o seu fim, calco a sua memória, rasgo, esfarrapo a sua existência e abro os braços com alegria ao novo ano para causar ciúmes e despeita ao safado do ano ido, ao ano da má memória, e começo incondicionalmente entregue nos braços do ano novo.
Regurgitava estes ácidos pensamentos que me predispunham para uma indisposição mental, enquanto outros pulavam, pulavam e pulavam também na caixinha mágica (cada vez com menos encanto e cada vez mais parecida com o ânus do mundo) imagens de maravilhoso colorido e de estoiros e muitas ilusões de pessoas que aos berros e aos saltos emborcavam nas ruas, pelos gargalos das garrafas, os líquidos que as entonteciam, enquanto as imagens e as reportagens pulavam de leste para oeste, iam pulando da primeira passagem de ano para a última, pulavam das Ilhas Samoa para Sidney, Singapura, Atenas, Paris, Lisboa e Ilha da Madeira e em breve pulariam para Londres, donde pulariam, hora após hora, até ao fim da alegre e festiva cruzada!
Confesso que as de Londres, já não vi! Acordei feliz! Acordei bem disposto! (Lembrei-me do terapeuta Miguel - que já não os festeja-, e que aquela pergunta, me respondia invariavelmente: « - Apenas me pagam para estar "disposto", nada mais do que isso..., não me pagam para estar bem disposto!...»). (Calha bem!, ou mal!..., a mim pagam-me miseravelmente para estar "deposto!" Menos mal vou eu, porque a outros..., prolongam-lhes desumanamente a idade da "deposição" para não lhes pagarem ou para lhes pagarem o menos possível na "deposição", a miserável reforma.)
Recentrando-me! Comecei a acordar devagarinho. Ele entrou radioso de luz, cor e calor. - Bom dia Sol! (invadiu mais de metade do meu mundo!). Também o invadiram as torradinhas, os bolinhos, o negro quentinho, revigorante e doce de amargo "Cá-Fé" que fizeram o resto da, ainda, festa...
Depois, alonguei o braço e apanhei a Maria Antonieta Preto, puxei-a para cima dos meus lençóis. Ela veio na sua versão: " A Ressureição Da ÀGUA" e revelou-me mundos de sonhos e maravilhas em enroladas descrições, em expressões encantadoras e em frases com prodigiosa imaginação escritas. Invejei-te Jorge Listopad pelo maravilhoso capítulo: " A Língua Das Rosas", que ela te dedicou!
Ahhhh! Afinal 17 e 18 fundiram-se e continuam num mesmo e único tempo (VIDA!), prometendo continuar a deliciar-me com o tipo de vida que tanto amo, e que aprendi a fazer acontecer depois de muitas, muitas dores, muitas decepções e muitos sofrimentos...

CARÍSSIMOS! Não esquartejem a vida, vivam-na incessantemente e intensamente, amem-na como um todo. Amem-na como uma Fénix que renasce das próprias cinzas, porque a vida, a partir de certa altura, é mais memória que vida por viver...
Texto GRITO!

* Este texto, foi escrito segundo os termos da ortografia anterior ao recente (des)Acordo Ortográfico.

 

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