Quando os pais manipuladores optam por isolar os adolescentes de outras fontes de apoio – como amigos e familiares – estão, de forma subtil, a limitar o acesso dos jovens a experiências e referências diversificadas que poderiam oferecer-lhes um suporte emocional importante, e alargar a sua visão de mundo (também emocional).
Esta estratégia intensifica o controlo, fazendo com que os adolescentes passem a depender quase exclusivamente da validação e orientação desses pais.
Esta manipulação acontece através de uma distorção que os próprios pais vão depositando na percepção dos jovens, que acabam por internalizar a ideia de que apenas agradar aos pais é o caminho para receber amor e segurança. Ao eliminar ou minimizar outras relações, os pais criam um ambiente onde o afecto e o reconhecimento ficam condicionalmente vinculados à obediência e à conformidade com as expectativas definidas em casa.
Assim, os adolescentes podem sentir uma pressão constante (e raramente consciente) para corresponder a esses padrões, temendo que, ao se desviarem deles, percam o afecto ou o suporte que consideram indispensáveis.
Neste contexto, a necessidade de agradar deixa de ser apenas uma procura de aprovação e torna-se uma tentativa de preencher uma carência emocional (distorcida) originada na própria estrutura familiar.
A falta de alternativas e de validação externa contribui para que os jovens acreditem que o seu valor e a sua identidade estão intrinsecamente ligados à aprovação dos pais. Esta dinâmica pode comprometer o desenvolvimento não só das experiências próprias da idade, da autonomia, e afectar a construcão de uma identidade própria e saudável.
Resumidamente, o isolamento intencional dos adolescentes fortalece o controlo dos pais manipuladores, criando um ciclo em que os jovens se vêm presos à necessidade de agradar, na tentativa de manterem a única fonte de apoio emocional que lhes é apresentada.
Este padrão de comportamento pode ter consequências negativas no desenvolvimento emocional e na capacidade dos adolescentes em estabelecerem relações mais equilibradas no futuro.
Muitas vezes, estes jovens optam por evitar lidar com situações de dor, afastando-se dos seus sentimentos, justamente porque nunca cresceram num ambiente com exemplos saudáveis de expressão emocional e onde a segurança emocional fosse uma realidade.
Sem referências claras sobre como vivenciar e gerir emoções – como a tristeza, a raiva ou mesmo a alegria intensa –, acabam por internalizar a ideia de que enfrentar a dor pode ser demasiado arriscado ou desconfortável.
Neste contexto, a falta de modelos de relações saudáveis durante a adolescência, baseadas na empatia e na comunicação aberta pode levar os adolescentes a construir defesas emocionais rígidas. Estas defesas funcionam, por um lado, como um mecanismo de autoprotecção, mas, por outro, impedem o desenvolvimento de uma intimidade verdadeira e de uma gestão saudável das emoções. Assim, a tendência a afastar-se dos sentimentos pode criar um ciclo onde a dificuldade em lidar com a dor limita a capacidade de se conectarem e de se expressarem de forma autêntica, perpetuando a vulnerabilidade e a dependência de padrões disfuncionais de relações no presente e no futuro.
Cristina Loureiro
Directora Pedagógica do Conservatório de Música David de Sousa e Especialista em Neurociência Aplicada às Pessoas e às Organizações
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