Ainda menina, a noite caiu acabadinha de nascer.//
Caíram abraçados os corpos quentes, maduros e de ferventes desejos. //
Gatos pardos e assanhados, desassossegam os telhados ensonados com o seu reboliço a crescer.//
Estrelas cintilantes pontilham colaborantes o cantinho escondido dos amantes aos beijos//
Assanham-se os corpos com descontrolados chupões e doces arranhões //
Nos adormecidos telhados, correm desenfreados gatos e ecoam os prolongados miados das conquistas ferozes.//
Na cama, os lençóis indecentemente descompostos abafam ais e acesos palavrões.//
É animal o desejo dos corpos febris e viris miados alto e gritados com roucas vozes.//
Miados gritados e gemidos assanhados confundem-se, contorcem-se, esfarrapam e agitam a noite desavergonhada.//
Na noite profunda range tudo, telhas, camas, dentes e as garras afiadas penetram a carne profundamente.//
Centenas de ais, suspiros, gemidos cansados e langorosos miados já clamam pelas tréguas da madrugada.//
Finalmente, os corpos suados, com tremores, já desfalecidos, enroscam-se e adormecem em cadeirinha e até os gatos sossegam de repente.//
Uma ténue risca branca no horizonte desperta de desejos o galo que alvoraçado ao novo dia canta.//
Despertam tímidos os primeiros pássaros com alegres bons dias trinados.//
Ainda menino o dia acabadinho de nascer já encanta.//
Caem no desejo fervente os corpos quentes e maduros dos galos e das galinhas e dos passarinhos nos ainda ensonados telhados. //
Figueira da Foz, 21 de Outubro de 2020.
* Este texto, foi escrito segundo os termos da ortografia anterior ao recente (des)Acordo Ortográfico.
“Copyright 2016 Walter Ramalhete. Todos os direitos reservados.”
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