Carregados de cores, a maioria cinza

Está-nos um dia envergonhado, carregado de cinza cor. Bate-lhe teimosa e oblíqua uma chuva áspera. Vem fugida do vento, esse vulgar ensarilhador sem maneiras.
Ele venta badanais nos recantos escuros, levanta novas vidas às folhas secas. Gatos pingados, miam enroscados no descontentamento e na impaciência. O mar não se atura, não pára quieto, parece infestado de pulgas - até pensei em correr o aspirador nele inteiro, tadinho!
Muitas pessoas, vestidas às cores das flores, coçam-se murchas sem saberem porquê. É Domingo! Os sinos lá do seu alto precipitam avisos da hora da missa e apressam os fiéis. Perdoa-lhes agradecida a menina do vestido amarelo rodado e dos olhos azuis paixão, irrequietos, ansiosos por pousarem nos dois outros secretos no coro encontrados, porque finalmenteeee é Domingoooo!
É Domingo de aleluia, de paixão, de amor confesso no olhar do seu único santinho, o Zezinho, o menino do coro da igreja. Já no final desse dia, murcham também os cinzentos das freiras, das viúvas de há muitos anos e do fato domingueiro do padre entretanto despido dos paramentos coloridos.
A menina, a menina dos lindos olhos azuis, no final desse dia, sonha a cores vivas com o seu Zezinho, baloiçados num arco-íris gigante.

Walter Ramalhete. Figueira da Foz, 29 de Março de 2024.
Este texto foi escrito nos termos ortográficos anterior ao actual (Des) Acordo Ortográfico. Reservados todos os direitos de autor.®

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