Crónica de uma Covid anunciada (Com a devida vénia a Gabriel Garcia Marquez)

Era Verão.
A. e L. (abreviaturas meramente ficcionais para impedir a identificação dos protagonistas, claro!) vinham planeando há muito tempo um encontro com a família de L. - quatro filhos e respectivas famílias, a viverem em quatro países diferentes - que iria ter lugar na Madeira durante uma certa semana de Julho.
E lá foram eles, felizes com a iniciativa que tinha tudo para correr bem - bom tempo, excelente alojamento e óptima disposição.
É certo que A. estava completamente afónica porque tinha apanhado um frio terrível numa daquelas noites de Verão da Figueira da Foz. Mas isso não era problema e até poderia proporcionar a ambos uma viagem mais tranquila, não fosse A. do tipo que não se cala, nem afónica. Na falta de voz, fala por gestos ou escreve recados. Adiante!
Por precaução, não fosse o diabo tecê-las, fizeram autotestes Covid antes da viagem. Negativos! Siga!
Já na Madeira, e enquanto não chegavam todos os membros da família, a rouquidão de A. não melhorava, começou a ficar com tosse, nariz congestionado, dores de garganta e começava a haver razões para pensar que o “bicho” desta vez tinha mesmo atacado. Novos testes a ambos. Negativos. Consulta-se o médico, à cautela, apesar de não ter temperatura, repete o teste: negativo. Vida normal.
Passados dois dias, começa L. com garganta arranhada, nariz a pingar. Nada de temperatura, perda de paladar ou dores no corpo. Mas…pelo sim, pelo não, saia mais um teste. Horror dos horrores: A. negativo, L. positivo. Balde de água fria. Teste conformado, comunicação ao SNS, isolamento de cinco dias. Então e agora quais são as regras? Um positivo, outro negativo. Ah! Isolamento é só para quem está positivo. Quem está negativo pode continuar a sair, mas com máscara e todos os cuidados. Ahha! OK. A vida continua, da varanda para o quarto, do quarto para a casa de banho, da cozinha para a varanda. Jantar de família por zoom para o patriarca. Viagem de regresso adiada para que os cinco dias de isolamento se cumpram de acordo com os regulamentos.
Na viagem, com L. já fresco, A. começou a sentir-se com arrepios, mas a verdade é que o avião estava gelado. Chegados a casa, o mal-estar tinha aumentado. Temperatura:38.3. No dia seguinte, teste: positivo…finalmente! Que alívio! Já tinha começado a pensar que a minha Mãe tinha razão quando dizia que eu era de má raça por isso é que nunca ficava doente…
Ao fim de dois anos e meio de mil cuidados e um total de sete doses de vacina, o vírus cumpriu a sua missão e juntou mais dois casos às estatísticas.
Missão cumprida!
Continua a ser Verão.

(Alice Mano-Carbonnier)

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