Diz-me meu mestre em qual dos milhares de folhas que os teus dedos parteiros trouxeram à luz, em que parágrafo, em que frase, em que palavra ou em que sinal de pontuação estás perdido de ti mestre?
O tratamento na segunda pessoa é mero recurso literário, porque o respeito, a admiração e a consideração por ti são incomensuráveis.
Se assim for, se estiveres perdido dentro da tua obra, nós todos - teus seguidores - de lupa na mão vasculharemos os teus escritos linha a linha e nas entrelinhas, letra a letra, espaço a espaço, sinal de pontuação a sinal de pontuação até te encontrarmos.
Senão, diz-nos com que memórias te consolas ou te desesperas mestre? Será que foi agora que o dique da tua genialidade rompeu-se?
Estarás inundado de ideias ou de moinhos a que os teus dedos não conseguem dar parto nem briga numa horinha rápida e feliz?
Estarás em choque por teres visto quanto ainda tens de ti para dar-nos, até conseguires fechar e completar a roda ou o círculo da tua obra, como nos dizias que em breve o farias?
Ter-se-á Calipso - aquela deusa que prendeu Ulisses na sua ilha - apaixonado pela tua pessoa e pela beleza da tua obra e não há Hermes que te valha contra ela?
Terás resvalado desafortunadamente para dentro do teu lado negro, donde não há fuga nem escapatória possível? Lado negro esse, existente em todos os seres humanos. Terás sido incauto a esse ponto?
Logo tu mestre, médico psiquiatra que nos juras que nunca trouxeste nenhum paciente teu para dentro da tua obra?
Mestre, não referi o teu nome pelo grande respeito e admiração que nutro e sempre nutrirei por ti.
Vou procurar-te, prometo!
Forte abraço!

Walter Ramalhete
Figueira da Foz, 24 de Setembro de 2024. Este texto foi escrito nos termos ortográficos anterior ao actual (Des) Acordo Ortográfico. Reservados todos os direitos de autor.®