Donde me vêm os poemas? - pergunto-me num dos solilóquios que me preenchem os dias.
Da cabeça? Alguns! Talvez aqueles mais razão do que coração, mas que não deixam de me encantar.
E os outros? Uns vêm da melancolia, mas nem sempre são tristes, ou então ... disfarçam muito bem!
Muitos poemas vêm dos versos soltos que se passeiam por aí nas vidas e nos mundos dos outros:
alguns vêm de olhares afogados nas promessas e nos desejos -deles- sempre adiados;
outros vêm nos pares de mãos dadas dos três anitos, e por aí adiante até aos noventas e muitos... sem fim;
alguns vêm da minha visão de dedinhos certinhos apontados às guloseimas coloridas defendidas pelas vitrines lambusadas doutras dedadas pedinchosas;
vêm dos livros abertos na página suspensa pelo sonho que voou sem rumo e regressou envolto numa lágrima capeada no disfarce dum sorriso breve;
vêm dum casal de velhinhos, primos ainda, e ainda enciumados no amor único e inteiro das suas vidas;
vêm dos sons do silêncio que só eu ouço;
da perseguição eterna e desencontrada do Sol à Lua e da Lua ao Sol;
vêm do choro dos pássaros que parecem estar sempre a cantar, e vêm também das cores desmaidas dos amores perdidos;
do desencontro e reencontro das cores maravilhosas e... até, da morte breve das flores, porque tudo isto é mote!
É isso, é assim... com o meu olhar capturo, roubo, ou tomo emprestados os versos da vida soltos, perdidos, abandonados, ou desprezados e moldo-os ao meu jeito e faço poemas que torno a soltar livres para outros sonhadores continuarem a sonhar...
Depois..., com a ponta dos dedos da minha mão escrevente escorro-os de dentro de mim, lambuso o alvo papel resignado, ou o luminoso ecrã, ou o gravador de vozes, para chegarem a outras formas de ver e sentir estes poemas da vida, que agora serão para sempre também seus!
... e, felizmente que... assim me cumpro feliz, de solilóquio em solilóquio!
Walter Ramalhete.
Figueira da Foz, 17 de Agosto de 2024.
Este texto foi escrito nos termos ortográficos anterior ao actual (Des) Acordo Ortográfico.
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