Falsas notícias

Talvez motivado por um período eleitoral, resolvi retomar um tema já constantemente abordado para reflexão. As notícias falsas, sob uma análise comportamental.
No antigo testamento (em Êxodo 23:1) pode ler-se “Não faças declarações falsas…”, no entanto, em 2022 o Observatório Ibérico de Media Digitais revelava que a maioria dos portugueses (87%) tem acesso a notícias através de redes sociais. Este observatório revelava que 83% dos meios de comunicação social já haviam difundido notícias falsas baseadas nas redes sociais. Num estudo feito a 17 empresas de comunicação social verificou-se que 58% dos órgãos de comunicação social não possuem protocolos de verificação de informação e, em cerca de 80% dos órgãos de comunicação social, não houve formação acrescida sobre verificação de factos.
As notícias falsas espalham-se a uma maior velocidade do que as notícias verdadeiras. Num estudo realizado a partir do twitter (atual X) permitiu perceber que as notícias falsas se difundiram mais rapidamente e de forma mais profunda do que que as notícias verdadeiras. A probabilidade de uma notícia falsa ser retwetada era 70% maior nas falsas notícias do que nas verdadeiras, podendo chegar a dez vezes mais pessoas. Uma análise detalhada dos algoritmos permitiu perceber que os bots (robots) espalham as notícias de forma idêntica (verdadeiras e falsas), mas a disseminação de notícias falsas era maior devido à propensão do ser humano de ser atraído pela novidade e por notícias emocionalmente entusiasmantes. A forma como as notícias falsas se propagam, assemelham-se à propagação de vírus, usando as pessoas e as suas crenças. Em termos cognitivos existem algumas justificações. Passo a refletir sobre algumas. 
A proximidade entre as pessoas inseridas em grupos de amigos e em relações de proximidade, faz com que mais rapidamente se possam propagar as notícias falsas. Por outro lado, o efeito de repetição das notícias aumenta a perceção que as pessoas têm da veracidade desta “desinformação”, exatamente por esta, ao ser repetida, se tornar cada vez mais familiar, mais “verdadeira” de forma aparente. 
Sabemos que todas as pessoas podem, em determinados momentos, acreditar em notícias falsas e replicá-las, pois os contextos de imprevisibilidade social provocam desconforto e os criadores destas notícias aproveitam-se de algumas emoções, como o medo e a tristeza, para que estas informações se disseminem, aproveitando o estado emocional dos leitores. 
Também estamos conscientes de que os seres humanos têm uma tendência inata para acreditar em informações que confirmam ou correspondem às crenças pré-existentes. Ou seja, têm tendência a acreditar em “fake news” que tenham algum tipo de relação com as suas opiniões, pois estas contêm algo em que já acreditavam antes. 
Uma outra razão prende-se com o facto do elevado número de fontes e fluxos de informação produzir um excesso de informação, não possibilitando o seu processamento, afetando a capacidade de análise e decisão sobre os conteúdos disponibilizados.
Resumindo, a disponibilidade de um grande volume de informações, a predominância de um raciocínio intuitivo, aliado à ausência de avaliação de credibilidade, falta de tempo, uma natural preguiça cognitiva, podem ter impacto na maior disseminação das notícias falsas e ter impacto nas nossas emoções e decisões. Uma forma de nos protegermos e proteger os outros de informação falsa, é procurar a informação em fontes credíveis, tentarmos perceber a validação da informação, percebermos se é informação útil recente ou atualizada e apenas partilhar, perante a inexistência de dúvidas.

Paulo Cunha (Psicólogo e Coordenador da Mental School)

COMENTÁRIOS

ou registe-se gratuitamente para comentar.
Critérios de publicação
Caracteres restantes: 500

mais

QUEM SOMOS

O «Figueira Na Hora» é um órgão de comunicação social devidamente registado na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Encontra-se em pleno funcionamento desde abril de 2013, tendo como ponto fulcral da sua actividade as plataformas digitais e redes sociais na Internet.

CONTACTOS

967 249 166 (redacção)

geral@figueiranahora.com

design by ID PORTUGAL