Tive a sorte de ser uma das primeiras famílias a ter os chamados canais não generalistas lá na aldeia onde cresci. O meu favorito sempre foi o Canal História.
Muitos o vêem como um diário antigo, a contar coisas do passado. Por acaso nunca olhei para o Canal História dessa forma, sempre o imaginei como lições de vida. Como quando atingimos uma determinada idade e pensamos o quanto teria sido útil se pudéssemos escrever uma carta ao nosso “Eu” jovem e contar-lhe toda a sabedoria acumulada até então.
Mas o ser humano faz o que o ser humano sabe fazer: varremos tudo o que nos incomoda para o subconsciente, nunca aconteceu nem nunca mais irá acontecer.
Esse sentimento, das guerras de outrora, das ditaduras do século passado, das trincheiras nunca mais escavadas e do terrorismo lá longe deu-nos uma espécie de segurança e de ilusão de vivermos na geração mais vanguardista de todo o sempre.
Talvez por ter visitado sítios como a Coreia do Norte, tivesse tido sempre a noção de que a nossa percepção da realidade (como Ocidentais), a nossa percepção da humanidade, era extremamente linear e simples.
O facto de trabalhar há mais de um ano numa empresa onde muitos dos meus colegas são ucranianos e bielorrussos veio cimentar ainda mais a ideia de que existem muitos mundos neste nosso planeta e nunca apenas aquele que nos viu gatinhar.
Esta experiência em lidar com culturas tão diferentes fez-me também dar valor a direitos para mim mais do que adquiridos e básicos. Quando com 21 anos fui pedir pela primeira vez o meu passaporte para então conduzir pela América durante um mês, olhava para este documento sem lhe atribuir qualquer valor ou significado. Apenas um “livrinho” necessário para apanhar um avião.
Hoje, enquanto faço as malas para uma viagem de trabalho, sabendo que muitos colegas não podem participar na mesma conferência para onde eu vou porque nasceram na Bielorrússia, faz-me olhar para o meu passaporte de uma forma completamente diferente. Aliviada. Com gratidão. E com um pouco de orgulho confesso.
A guerra chegou à Europa, como gostam tanto de escrever nos rodapés dos telejornais. Guerras mundiais sempre tiveram como grande palco a Europa, e numa era nuclear nem o Salazar nos poderia prometer livrar da radioactividade.
E os portugueses sentem isso no seu âmago. Um nervosismo miudinho, como se existisse uma consciência colectiva de que algo muito terrível pode realmente acontecer, e tentamos a todo o custo seguir com as nossas vidas normais. Já a minha psicóloga dizia: é inútil gastar forças com aquilo que não podemos controlar. E se há coisa de que o ser humano sabe fazer bem, é seguir em frente.
Enquanto uns olham para o conflito como se de um filme da Marvel se tratasse, com um optimismo hollywoodiano, outros revelam actos verdadeiramente heróicos, ou são apenas mais racionais, ou simplesmente não têm opinião formada.
Só o tempo dirá quem tem afinal razão, aliás o tempo, ou o passado tão presente no nosso Canal História.
(Diana de Carvalho)
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