Até ao dia 10 de Outubro, quando a Academia Sueca anunciou o vencedor do Nobel da Literatura deste ano, nunca tinha lido nada (nem ouvido falar!), da romancista e poeta sul-coreana Han Kang. Tinha-me até passado despercebido que a autora tinha ganho em 2016 o Man Booker International Prize. Senti-me muito embaraçada, confesso. Que não tivesse lido nada da autora era aceitável, não leio tudo de todos, longe disso!, mas nem sequer conhecer o seu nome, foi francamente desagradável.
Salvou-me deste sentimento de obscuro desconhecimento uma amiga que tinha um livro da autora, intitulado “A Vegetariana”, e que se prontificou para mo emprestar. Li! E sou até capaz de reler...ou talvez não este livro especificamente, mas outro qualquer da autora.
O tema de “A Vegetariana” cujo título parece inócuo, é uma história inquietante, narrada não pela personagem principal, mas pelos familiares, o marido, a irmã, o cunhado, que nos levam a construir o perfil da personagem na base de como eles a vêem e como tentam julgá-la, entendê-la, usá-la. Dela apenas conhecemos os sonhos horríveis que a levam a deixar de comer carne.
Não, não vou aqui desvendar o enredo do romance, digo-vos apenas que se tiverem a curiosidade e interesse de o ler (o que eu aconselho sem reticências a quem gosta de conhecer novas experiências mesmo sem as viver pessoalmente) se preparem para uma mistura de sensações e emoções que podem ir do estranho, perturbador, absurdo, mesmo desagradável, ao esteticamente harmonioso, belo, sensual.
A prosa é intensa e a escrita escorreita, fluída e viciante.
Boas leituras!

(Alice Mano-Carbonnier)