Mal(es) dobrados!

Mal(es) dobrados!
Vesti-me de nada,/
no sonho que descomanda a vida,/
mas ninguém me viu nu.//
Fui para junto do mar,/
guiei-me pela lua,/
cheia da maré vazia.//
Encontrei-o calmo,/
transpirava maresias,//
ondulava num irrequieto vai e vem.//
Despi-me do nada que trazia,/
dobrei-o pelos vincos cuidados,/
nus da vida que me desmanda.//
Deitei-me ao mar do amar,/
com a lua minguante de cheia conluiada,/
o meu peito esvaziava e pouco o enchia.//
Encontrei-me sem alvo,/
não transpirava, só gemia,/
bebia maresia e ondas também.//
De nada me vesti, regressei mais nu,/
deixei a maresia, o mar e a lua vazia,/
conluiados não me perceberam amarrotado.//
É assim a vida quando se "desmaresia",/
nua, minguante, vincos descuidados,/
mal(es) dobrados, esvaziada, amarfanhada!!!//

Walter Ramalhete.
Figueira da Foz, 7 de Março de 2024.
Este texto foi escrito nos termos ortográficos anterior ao actual (Des) Acordo Ortográfico.
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