O poder das palavras

Em Psicologia, entre muitos métodos de trabalho e técnicas intervenção, a palavra continua a assumir um forte poder funcional. Mais do que um meio de comunicação com o outro, em Psicologia percebemos a importância que a palavra tem acerca daquilo que comunicamos sobre nós próprios.
O Papa Francisco no início do mês de Julho tentou visitar a Rússia e a Ucrânia numa tentativa de contribuir para a paz. Imagino o enorme trabalho diplomático e a preocupação que esta iniciativa terá causado. O Papa Francisco ao visitar uma zona de conflito arrisca a sua vida e a própria paz, porque além de representante da Igreja Católica Apostólica Romana é também chefe de estado. A semana passada o Papa Francisco pediu desculpa pelas atrocidades produzidas por elementos da sua igreja no processo de colonização de uma determinada região. Todo o reconhecimento de um erro, um pedido de desculpas é sempre um acto que dá tranquilidade às vítimas e suas famílias. Eu gostaria que o Papa conseguisse difundir o seu exemplo a outros chefes de estado e que estes reconhecessem erros na sua história. Qualquer pedido de desculpas se refere ao passado. O argumento que muitos chefes de estado usam de que o contexto de um qualquer passado não pode ser visto aos olhos do presente, é um argumento nem sempre acertado. Não reconhecer hoje erros do passado, não é mais do que perpetuar os erros do passado aos olhos da atualidade, é perpetuar conflitos entre estados, nações e pessoas. Serve apenas para criar antagonismo e muitas vezes para perpetuar e ancorar vítimas a um destino.
Pedro Abrunhosa cantou em público músicas que sempre cantou e assumiu posições políticas como sempre assumiu. Num espetáculo ao vivo tentou que as suas palavras fossem ouvidas na Rússia e em Moscovo, parece que foram ouvidas. A Embaixada da Rússia em Portugal fez um comunicado em que deu a entender que não tinha gostado do que tinha sido dito publicamente pelo cantor. O Governo Português, em comunicado, disse que não aceitava o tom ou a forma em que a embaixada comunicou. As pessoas nas redes sociais tomam posições, pelo que vi, há pessoas que pensam que Pedro Abrunhosa não devia ter falado o que falou, outras acham que sim; há pessoas que pensam que a Embaixada Russa não devia ter escrito como escreveu, outros acham que sim. Pedro Abrunhosa entretanto escreveu que as suas palavras não são bombas, nem matam, nem separam famílias, fazendo uma comparação entre o impacto das suas palavras às bombas utilizadas pelo exército Russo contra populações Ucranianas.
Este é o poder da Arte, despertar emoções. Mas este é sobretudo o poder das palavras, elas servem para minimizar a dor, ou acertarem-nos como bombas quando não estamos em paz com as nossas ações e o nosso passado.

(PAULO CUNHA - Psicólogo e Coordenador da Mental School)

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