Os segredos são coisas sagradas!

- Avozinha!
- Diz minha querida!
- Vou contar-te um segredo, posso?
- Espera. Ainda não o contes. Primeiro deixa-me dizer-te uma coisa. Sim, minha querida?
- Sim avozinha!
- Esse segredo é uma coisa tua e que só tu sabes?
- Sim avozinha, é um segredo só meu, juro!
- Então… se me contares deixa de ser um segredo só teu, poderá passar a ser um segredo só nosso… se eu for uma pessoa confiável e suficientemente digna para guardar um segredo, pois, nem toda a gente é.
- Avozinha! Eu sei e eu sinto que tu és digna e de confiança e que guardarás o meu segredo. Não comeces a brincar! Mas espera avozinha! Deixa-me primeiro fazer-te uma pergunta: - Tu também tens segredos?
- Tenho sim, minha querida!
- Tens só um ou tens muitos segredos?
- Minha querida, ouve-me com muita atenção. Sem te aperceberes – julgo eu…, eu que ainda quase nada sei… - fizeste-me uma pergunta que mexe com as coisas mais importantes e sagradas das pessoas que são verdadeiramente pessoas dignas, pois, o segredo mexe com o carácter; mexe com a honra; mexe com a fidelidade; mexe com a amizade; mexe com a vergonha; mexe com o sagrado; com o íntimo; com o pudor e quando é violado pode levar à loucura e até à morte. Quando alguém trai um segredo, rasga e fere duas almas à facada, faz feridas que nunca mais curam, não há remédio para isso, apenas o perdão atenua. essas dores. Pessoalmente…, verdadeiramente meus, tinha dois segredos, mas como te vou contar um deles –se me autorizares?- passarei a ter apenas um que morrerá comigo. Mas…, tenho muitos, muitos, muitos…, tantos, tantos, tantos outros segredos que deixaram de ser segredos para quem mos contou, mas que eu tranquei-os dentro dos meus segredos e que, por isso, também morrerão em segredo comigo! Guardar um segredo é uma responsabilidade muito grande, porque nós só podemos decidir sobre os nossos segredos pessoais, os outros segredos, os segredos que nos foram confiados, aqueles que nos foram segredados – repara bem nesta palavra: SE-GRE-DA-DOS (segredos dados) - por outras pessoas, esses segredos, só elas nos podem desobrigar deles e…mesmo assim, essa autorização não nos desobriga totalmente de continuarmos a guardar o segredo, por isso, mesmo esses morrerão comigo. Muitos segredos fui eu que quis saber, porque através deles tive acesso ao mais luminoso e igualmente ao mais negro existente no ser humano. Agora , minha querida, vou dar-te um conselho: evita o máximo que puderes que te contem segredos, porque corres o risco de te quererem transformar num “caixote de lixo” cheio de muitas imundices; vaidades estúpidas e cegas; verdades impossíveis de revelar; cheio de coisas mesquinhas e bobas sem interesse nenhum, contudo, cada segredo é uma prisão! - percebeste minha querida?
- Percebi sim avozinha. Agora tenho medo dos segredos. Vou passar a ter muito cuidado, prometo-te!
- Querida, o segredo faz parte da vida, não há como fugir-lhe completamente, porque ele tanto pode ser um tesouro do bem como uma arma poderosa do mal. Cada um terá de geri-lo e a forma como o gerirmos é que vai definir o género de pessoa que cada um é ou foi. Agora diz-me: - ainda queres que eu te conte o meu segredo?
- Sim avozinha, quero muito! Podes confiar em mim!
- Eu sei que posso confiar em ti, minha querida! Portanto: desde quando ainda era muito pequenina e até hoje tenho muito medo de dormir num quarto completamente escuro. Quando era menina tinha medo de fantasmas, monstros e ladrões, hoje já só tenho medo dela… Dantes adormecia vencida pelo cansaço, hoje faço por adormecer rapidamente para que se ela aparecer…, me apanhe de repente, a dormir profundamente e completamente desprevenida… Achas ridículo este meu segredo, minha querida netinha?
- Não! Não acho nada ridículo o teu segredo. Ele é igualzinho ao segredo que te queria contar, também tenho muito medo de fantasmas, monstros, bruxas e ladrões, nunca adormeço sem espreitar debaixo da minha cama para ter a certeza que eles não estão escondidos debaixo dela. Só não sei quem é essa tal ela que agora te mete tanto medo. É uma bruxa má, avozinha?
- Ohhh!, minha querida netinha. Não te sei dizer se é uma bruxa má, se é uma fada boa, pois, nunca a vi, desconheço-a completamente, afinal, julgo que tenho muito medo porque ela é completamente desconhecida!
- Fica combinado avozinha: eu guardo o teu segredo para sempre e tu guardas o meu segredo para sempre também! Sim?!!!!, avozinha.
- Sim!!!, minha querida netinha. Um segredo é uma coisa sagrada!

Figueira da Foz, 28 de Setembro de 2020.
* Este texto, foi escrito segundo os termos da ortografia anterior ao recente (des)Acordo Ortográfico.
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