Ainda não sei se o meu mundo é de ouro silencioso ou se é silencioso de ouro, já que sinto que, no mínimo, é meio por meio, ou seja, o meu verdadeiro mundo é silencioso, o meu mundo é de ouro verdadeiro.
Sinto-me verdadeiramente eu quando verdadeiramente estou sozinho comigo. É então que esse silêncio de ouro ou ouro de silêncio se apossa de mim, se apossa do meu ser. É então que deixo de ser aquele que sinto que não sou e no qual não me reconheço, para começar a ser aquele que sou e que, todavia, ainda me desconheço.
Nos tais silêncios, as minhas mãos tornam-se progressivamente mais quietas e menos barulhentas e os meus olhos também.
Nos tais silêncios, o meu mundo agiganta-se e os meus pensamentos calçam-se com pantufas almofadadas de algodão mudo envolto em lã sem som.
Nos tais silêncios, tudo, tudo, tudo se agiganta e até o tempo cresce parado. Do mundo lá de fora - oiço nada!
Dos pensamentos de lá - nada também!
Ruídos e barulhos - ainda menos!
De lá, fico vazio de tudo e fico a transbordar de todo o silêncio de cá - que me é tanto, tanto de paz, melodia, verso e anverso, poemas de rimas contrárias e afinadas nos seus desencontros das mil cores numa só, mas que não são mundo..., porque o mundo não é assim!
É por isso que no meu mundo sou tão sozinho - mas com tanta gente!
É por isso que o meu mundo é contrário daquele alvoroço descontrolado!
É por isso que o meu mundo é tão cheio de verdade - que até parece uma verdadeira mentira!
O que é isto? - perguntou-me extasiado.
- É o nada que é tudo no tudo que parece nada - descubro maravilhado!
É por isso que ainda não sei se o meu mundo é de silêncio de ouro ou é ouro de silêncio!