Opinião: Entre a Felicidade e o Dever

Ao longo da nossa existência, somos com frequência confrontados com uma escolha que parece dividir o rumo das nossas vidas: o dever ou a felicidade? O dever é a estrutura que nos sustenta, a rede de segurança que nos mantém ligados às expectativas da sociedade, da família e, muitas vezes, de nós mesmos. Já a felicidade, essa eterna esperança, parece ser o oposto: algo efémero, imprevisível, que nos obriga a abandonar o conhecido. Mas será que estes dois caminhos são realmente inconciliáveis?
A primeira pergunta que devemos fazer é: quem dita o que é o dever? Muitas vezes, crescemos numa «gaiola dourada», um lugar confortável onde a rotina e as obrigações nos oferecem segurança e reconhecimento. É um espaço onde os sonhos são adiados para amanhã, onde a nossa liberdade é trocada pelo medo de falhar. Mas, ironicamente, esta gaiola é apenas isso: uma prisão camuflada de estabilidade. Não somos, afinal, feitos para permanecer nela. O coração humano, tal como um pássaro, anseia voar.
Para que haja verdadeira magia nas nossas vidas, temos de agir com profunda coragem: saltar antes que nos cresçam as asas, e acreditar que elas vão crescer. É um salto de fé, o momento em que abandonamos aquilo que nos prende e escolhemos confiar no desconhecido. No entanto, é aqui que surge o dilema: será justo escolher a felicidade em detrimento do dever? Será egoísmo perseguir os nossos sonhos quando outros dependem de nós?
A resposta não está em abdicar, mas em encontrar harmonia entre os dois. O dever, em si, não é um inimigo da felicidade. Pelo contrário, é a estrutura que pode sustentar os nossos voos mais altos. No entanto, o dever só tem valor quando é alinhado com aquilo que somos verdadeiramente. Quando vivemos apenas para corresponder às expectativas externas, estamos a viver pela metade. Por outro lado, quando escolhemos a felicidade sem responsabilidade, corremos o risco de nos perder no caos.
Mas como fazer a escolha correcta? O primeiro passo é questionar o que significa, para nós, ser feliz. Não é raro confundirmos felicidade com prazer imediato ou superficial. A verdadeira felicidade está ligada a um sentido de propósito, a uma vida vivida em sintonia com os nossos valores mais profundos. Este é o momento de reflexão: os meus deveres servem o meu propósito? Ou estou a sacrificar a minha essência para agradar aos outros?
Sair da zona de conforto exige uma dose de coragem que poucos estão dispostos a encarar. Mas é precisamente ali, fora do território familiar, que encontramos as asas que nos permitem voar. É preciso lembrar que, para ser verdadeiramente feliz, temos de aceitar o desconforto do crescimento. Cada decisão tem um preço, mas a verdadeira tragédia seria escolher uma vida de conformidade, em detrimento de uma vida de plenitude.
A felicidade não é uma escolha egoísta, mas um acto de amor. Quando somos fiéis a nós mesmos, tornamo-nos um exemplo vivo para aqueles que nos rodeiam. Escolher a felicidade não é abandonar o dever, mas redescobri-lo sob uma nova luz, onde os nossos compromissos são uma extensão do nosso coração, e não uma corrente que o aprisiona.
Viver não é apenas sobreviver ou acumular conquistas materiais; é explorar os talentos e interesses que nos definem como indivíduos.
No final, a magia só acontece quando temos a coragem de dar o salto. O voo pode ser incerto, mas é nele que descobrimos a verdade essencial: não nascemos para viver na gaiola, mas para sentir o vento sob as nossas asas. E, ao fazê-lo, tornamo-nos não apenas felizes, mas livres.

António Ambrósio

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