Se, ficar por aqui neste chão dançante por quem, dançarino por algum ou alguém, por deus ou pelos homens, será, se eu não poder ir, ou se partir -a vazante ou a subinte- sem poder ficar, que não seja hoje, nunca hoje, que seja talvez amanhã, hoje não, agora nunca, talvez, quem sabe se poderá ou se será, depois, jamais, com certeza que sim. Ainda aqui estou -tudo não passa disto-porque deixo e não deixo alguma parte de mim pensar, ser, sentir. Já está. Digo. Falar. Com tanta mudança o mais natural é que tudo e nada mude, tal e qual como tudo é e como tudo deve ser. Porque, nada em mim deveras morre, tudo vive paralelamente à minha criatura, ao meu eu, exausto-me. E, às tantas e, por alguma ventura, tanto o é que parte de mim viverá para além da minha alma e deste meu corpo e dessa minha normalidade supurante que é mais louca que a própria normatividade da loucura. Oh, vida, que me és tão única. Aponta-me -oh deus- para que nada em mim jamais viva, porque a seguir à vida vem impreterivelmente a sua morte, então, eu quero desafiar-te -oh deus-quem mata a vida, quem faz viver a morte. Esteja eu morto e nada de mim morre. Não estou vivo não, e não estou morto. Tenho mil almas e um só corpo (ou dois). E, isto é uma aventura rica e nobre onde ninguém verdadeiramente nada ganha ou perde.
Sabendo neste dia que nunca sendo e ficando ou partindo de verdade noutro, talvez. Se for, a única coisa que de mim realmente deixarei ou levarei será a dúvida se estou vivo ou se estou a viver e a divida que daí se subtrai por mim afora e por mim adentro, toda ela e tudo nela assim, em guerra e em paz, morrendo ou vivendo, ficando a dúvida o que saber. Deixarei de quê e a quem. Se nunca o escrevo ou mostro ou falo por verdade. Por enjoo ou por saudade, porquê. Porque, não posso. Sei bem. Porque não sei. Sou incapaz. Direi. Que não passo de um rapaz velho, então, direi saudade como uma palavra, e, pensarei em saudade, e, sentirei saudade por outras palavras, não, este princípio abismal e de estética travesti, amoral. As lajes, que me são tão caras porque não me custam tanto – dizem- e eu em pequenos nadas esqueço - porque tudo assim o é, e a humanidade - não sua e os seus patos que também não são seus- nem de Deus- tudo que daqui meço, e, não peço, eu que sou eu porque não sou eu. Porque, sou eu aqui, além. Nesse dia, quando não sei, morreriam, e, nasceriam todos também outra vez à minha porta. Em buscas ou fugidos de quê. Não sei. Nem diria se o soubesse ou por tertúlia ou tortura ou ternura. Ao invés, experimento mais esta noite, calmo, deitado, difuso, quase sereno -outro, noutra altura outra- como se assim tudo meu fosse quase por defeito, quase uma unicidade não e mais que única, como se toda a vida fosse toda de uma única vez. Tudo que em mim é e não é real, embrulhado por presente sem sequer poder por outros ser presenciado, somos sozinhos em grupo à vez. Só por mim. Só por si. Por quem não sei, só sei da sua improbabilidade, sempre, sempre a ganhar terreno, num rali de folhas ininterrupto de rodas dentadas por terrenos inusitados de terror e ternura não sei por quem e porquê. Que bravo, sem tanto medo. Não sei se por mal se por bem. Se, vem ou vai por mim ou por mais um outro alguém. Um amor. Um segredo. Flores. Um batizado, um casamento, um enterro. A soleira. E, mais flores. E, mais alguma réstia de coragem e uma ou outra mão fora dos bolsos meio destemida, meio a sê-la a sua única mãe e única filha, como o meu eu que morrerá agora mesmo na solidão consumista destas lajes -em segredo- para outro de mim poder nascer, e, assim nada mais ser do que sê-lo. Eterno. A eternidade mais concreta, mais possível. Somos os únicos, as únicas que cresceram realmente sempre a par e passo com o mundo. Às vezes e lá longe, as flores, os amigos, os amores, o destino, talvez amanhã, nesse amanhã farão também todos parte destes trajes. Para que nada de ninguém nunca nos morra, nem eu nem vocês, nem os nossos sonhos, nem os nossos medos. Consigo quase fazer isso, e, assim o faço a olhar para a porta. E, olho com olhos de outro e de outra, e, assim não param os meus olhos. Porquê. Esqueci. Direi, porque já nada consigo, como os patos ordinais, querendo o quê ou quem, e, quando eu quero, vejo pessoas, o céu eterno, plantas e animais. Somos filhos imigrantes de animais colossais. Esses, os patos comungais. Os seus paradoxos instrutores, as linhas das suas escritas, os seus oníricos aviões tão infratores, o comboio gigante que se nos agiganta e agita, como qualquer um quando de visita– como um pássaro bravio, que voa por bem, e, por mal, sem princípios e sem fins à vista, de leves peitos para os céus estafados, quase avariados, côncavos, retificados, complacentes, discentes - o amor daqueles cabrões, chorões, indecentes. É de artista. Dos mais amigos nunca achados. Onde fica o coração dos mais amados. Que bem. Onde vai. Dos afins, e, tento tanto nesse ínterim ser decente, e, ao mesmo tempo indecente, quem me abrirá as portas do céu. Eu? Terá portas – terá entrada-terá saída.
Será que isso me interessa, será que também foi gente, uma noite, um dia. A noite, o dia. O que direi, não sei, e, se o soubesse - que poderia eu dizer ou fazer - a quem poderia eu dizer - não sei - sabendo-o numa indecência infetada, etérea, indecente, Antígona, pardacenta. Desonesta. Morri, e, nada em mim está morto, no que morrerei se estou aqui, se, estou todos os dias vivo. Quem se acreditaria em mim. Ninguém, e, toda a humanidade. Os patos ordinais, lá estão eles. Porém. Calo-me. Penso, se mais alguma coisa direi. Se mais. Se nada, porque além dos homens, os animais sofrem comigo até á extrema liberdade exaustiva das prisões da normalidade e da loucura. Seremos loucos de tão sérios na vida. E, putos de uma vida tão noutra outra vivida em morte de vida. Seremos assim, seremos um tanto, seremos outros. De agrafos de ossos em ossos. E, muito amor, e, muito ódio, e, tudo à mistura, noutra. Porque, somos gente. Tanto, e, só - por divindades de uma estrela mimada e rebelde, só dela. Diurna. O sol. De ponta em ponta. Os patos ordinais que não comem ossos, não os mastigam. Agora sei. A minha e a minha mão curada de uma doença que cura uma doença noutra. De que forma e de que maneira. Penso sem o pensar, olho para a parede, e, vejo uma cruz com um credo, uma varejeira e um credor. Direi -dos mais variados céus- olhando para os homens -ora sentados ora de pé- nos quintais, ora meigos, ora de espinhas, trabalhosos, pascais. Nada lhes é seu. Estendidos nunca. Entendidos jamais. E, com tudo confusos. Os deuses, que nunca são seus. Abismais. Demoníacos. Fictícios. Inimigos. Amigos. Mimados. Cardíacos. Afinal, não sei. Mais o quê. O que direi. Deixarei as limonadas dos poetas e as groselhas - as que não bebi - e, os livros de que não li. E, mais algum insólito meu. Como ostras. Escondidas. Raras. Únicas. Puras. Soltas. Uma qualquer uma qualquer coisa e outra qualquer coisa qualquer. Uma normalidade de tão simples e pura que se me amonta. Uma manta torta que se manifesta de sutura em sutura, um exercício sem ser exercitado com uma caneta e uma folha escura toda ela tonta. Sem reflexos, nem refletido, quase normal - sintetizado na própria calma intrínseca das três da manhã, nada. Penso- se me- aponta. Realmente meu algo levarei. O que, de meu em mim deixei e fiquei. Afinal, um pouco de nada, nem o que é meu, nem o que consigo amar e amei, nada, não levarei. Tive capacidade para o amor. Direi, terei coragem, o maior erro da minha vida, o capital, esse, não errei. Amei a saber amar e sem saber amar, e, amei de menos, e, amei demais. E, amo porque nunca amei ou amarei jamais. Porque, não amo jamais. O que ou quem -não faço ideia- não sei mais. Contento-me. Assusto-me. Escrevo. Olho para a porta, olho para a cruz, alguém olha pela porta, estranho, a varejeira agora quase parece uma luz. já é outro dia, vejo tudo, e, digo bom dia nas coisas de que falo e de que aqui e ali escrevo, no que ficarei, se sou um animal entupido de segredos que não são verdadeiramente segredos. Um animal assustado sem sustos verdadeiros, e, com medo daquelas três da manhã -tão irreais de realidade- que são outra vez e nada descansa por deferência a cada vez sou mais e sou menos. Pergunto-me: porque nada verdadeiramente perguntei, são quase horas não sei de quê, como é sempre tão única esta condição de dormir acordado entre a porta, os mantos que se manifestam, e, entre si se reproduzem na cruz pregada não sei onde, a varejeira já lá vai longe, se soubesse porque. Se pudesse, ligava mais a Deus, e, nada meu ou seu ou da vida lhe diria ou perguntaria, se pudesse, de todos, o meu amigo mais normal, e perguntava-nos. aos dois: como é ser sem ser. Afinal. Como não posso, o que mais desta noite perguntarei. Apago a luz e penso: sou um animal exausto, fausto, quieto, perfeitamente feio, terrivelmente belo. O que verdadeiramente escrevo. O que verdadeiramente apago que já me estava escrito. O que se apaga quando a noite se vai, e, foi-se com ela o resto do nosso aquém. E, o que fica realmente, tranquilamente, candidamente no escuro porque -nada direi- a não ser se eu não o for porque estou agora a sê-lo porque não o sou, esse todo, esse que me agita nenhum, esse alguém. Como estou. Sou um e não sou um. Sou nada porque nada sou o que não sou. Assim.
Amândio
Inicie sessão
ou
registe-se
gratuitamente para comentar.
|
O «Figueira Na Hora» é um órgão de comunicação social devidamente registado na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Encontra-se em pleno funcionamento desde abril de 2013, tendo como ponto fulcral da sua actividade as plataformas digitais e redes sociais na Internet.
design by ID PORTUGAL