OPINIÃO: A ameaça fundamenta a NATO

São as ameaças que, mais do que em qualquer outro momento, exigem respostas claras, estruturadas e consistentes. Assim foi desde a fundação da NATO em 1949, quando o seu propósito inicial passou pela contenção do autoritarismo soviético, e assim tem continuado a ser com os desafios que a Aliança tem vindo a ultrapassar, com maior ou menor sucesso.
Numa caminhada que conta com mais de 70 anos de paz sem precedentes na Europa, a verdade é que a atual pandemia do Covid-19 veio provar que um vírus insidioso tem a capacidade de colocar em causa a segurança de cada um de nós, seja em que região do planeta for. É também capaz de produzir incerteza na prosperidade económica de milhões de cidadãos, de uma forma que nem incursões terroristas ou outras ameaças securitárias se nos tinham ainda afigurado.
A Aliança transatlântica vislumbra, agora, um teste decisivo no que se refere à resposta ao novo coronavírus. De facto, este vírus, tal como qualquer ameaça que coloque em causa a segurança e bem-estar da sociedade civil, constitui um “ataque” que necessita veementemente de uma ação coletiva e efetiva de todos os seus países integrantes. Seria fulcral que a Aliança tivesse demonstrado esta capacidade e eficácia, provando definitivamente que os gastos de cada membro para a sua defesa mútua estariam a ser bem aplicados.
A decisão britânica de se retirar de uma missão de treino internacional no Iraque para alocar os seus recursos a operações domésticas poderá tornar-se numa constante seguida por diversos países da Aliança. Importa, com efeito, que a NATO e os seus países definam as operações que requerem força conjunta, elencando para tal um compromisso, e aquelas que constituem as missões domésticas de cada país.
Perante a dicotomia de alocar mais recursos que evitem, por exemplo, tentativas expansionistas da Rússia a leste da Europa, ou de dar mais força a políticas de combate à pandemia, é bastante provável que os membros da NATO tenham preferência por esta última. Afinal, a tomada de decisões prende-se pela contenção das ameaças que são mais gravosas ou penosas aos olhos daquela que é a interpretação e realidade geopolítica de cada Estado.
A doação, por parte da Rússia, de equipamento e recursos médicos para Itália num momento extramente delicado do país transalpino contrastou com a inicial apatia da União Europeia e da própria NATO. Como se não bastasse, foram muitos os países da Europa e do espaço atlântico que fecharam fronteiras ou bloquearam material médico de uns países para os outros (como foram os casos da Alemanha e França), numa alarmante falta de solidariedade que veio colocar em causa, uma vez mais, a sustentabilidade do projeto europeu.
Aquilo que a presente pandemia nos parece indicar passa pela necessidade da criação de um plano de ação no que se refere a potenciais focos de instabilidade, como são os casos de pandemias ou até de guerras biológicas, esboçando um protocolo de resposta que envolva todos os Estados-Membros da NATO.
Afinal, é muitas vezes durante ameaças e focos de instabilidade que se encontram políticas comuns capazes de dar resposta aos desafios com que os países da Aliança se deparam. Se há algo que instituições multilaterais como a NATO e a União Europeia nos ensinaram ao longo da nossa história, é que caminhando em conjunto será sempre mais fácil alcançar paz, segurança e progresso.

Manuel Matos dos Santos
(Presidente da Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico)

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