OPINIÃO: 80 anos da ONU: o eco de um mundo que esquece

Em 2025, a Organização das Nações Unidas faz oitenta anos. Oito décadas depois da sua criação, é difícil não olhar para o mundo e sentir uma certa amargura. A ONU nasceu das cinzas da Segunda Guerra Mundial, quando a humanidade percebeu que a destruição total não era apenas uma hipótese, mas uma realidade. Em 1945, os líderes das nações quiseram garantir que o horror não se repetisse. “Salvar as gerações futuras do flagelo da guerra” era mais do que uma frase bonita, era uma promessa feita a sangue e lágrimas.

Mas essa promessa está a esvair-se. O mundo que a ONU ajudou a reconstruir está novamente dividido, desconfiado e armado até aos dentes. O Conselho de Segurança, que deveria ser o coração da diplomacia mundial, tornou-se um palco de vetos e de discursos vazios. A guerra na Ucrânia, o sofrimento em Gaza e as crises que se acumulam em África e no Médio Oriente mostram uma organização muitas vezes impotente, presa à própria burocracia e às vontades das potências.

A história, infelizmente, tem memória curta. Nos anos 1930, a Liga das Nações, a antecessora da ONU, desmoronou-se pela falta de coragem política e pelo egoísmo dos Estados. O resultado foi uma guerra que devastou o mundo. Hoje, a mesma falta de cooperação começa a desenhar contornos perigosamente familiares. A desinformação alimenta o medo, o nacionalismo volta a crescer e o diálogo cede espaço à desconfiança.

É verdade que a ONU não é perfeita. Está presa a uma estrutura que reflete um mundo que já não existe: cinco países com poder de veto decidem o destino de quase duzentas nações. É injusto, anacrónico e, muitas vezes, paralisante. Mas também é verdade que, sem a ONU, o caos seria ainda maior. São as suas agências que alimentam milhões de pessoas, que vacinam crianças, que protegem refugiados e que, em muitos cantos esquecidos do planeta, ainda representam a única esperança.

Ao chegar aos oitenta anos, a ONU não precisa apenas de celebrações. Precisa de ser repensada e, sobretudo, precisa que o mundo volte a acreditar nela. O multilateralismo, essa ideia simples de que juntos somos mais fortes, está a desaparecer num tempo em que cada país olha apenas para o seu umbigo. E quando o diálogo morre, a guerra volta sempre a falar mais alto.

A ONU nasceu do medo e da esperança. Esquecermos o medo é perigoso; perdermos a esperança, fatal. O aniversário da organização devia servir para lembrar ao mundo que a paz não é um estado permanente, é uma construção frágil, que exige trabalho, coragem e memória. E talvez seja essa a lição mais urgente: a de que não há futuro possível se voltarmos a repetir o passado.

Bruno Santos
Estudante universitário, a frequentar a Pós-Graduação em Comunicação e Marketing Político e o Mestrado em Administração Público-Privada.
Licenciado em Estudos Europeus.

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