Figueira em Movimento - Parkour: Um modelo de cidadania

A coluna quinzenal Figueira em Movimento dedica-se àquilo que diz respeito à saúde e ao desporto que envolve a cidade da Figueira da Foz, em particular, à forma como as pessoas que nela vivem ou por ela passam se apropriam e/ou se poderão apropriar do seu espaço.


O Parkour, conhecido também como a Arte do Movimento (do francês Art du Déplacement), apresenta as suas raízes em Lisses (França) em meados da década de 1980.

A base do Parkour centra-se no método natural desenvolvido por George Hébert (um marinheiro de alta patente das forças armadas francesas; atualmente reconhecido como uma figura intemporal no campo da educação física) após a sua intervenção heroica na catástrofe natural da erupção vulcânica do Monte Peleé (França) em 1903. Hébert acreditava que uma forte preparação física e mental contribuiria para ajudar as pessoas a salvarem-se e a salvarem outros em situações de crise. A partir desta convicção nasceram os dez movimentos basilares deste método: caminhar, correr, saltar, movimento quadrúpede, escalar, equilíbrio, levantar, carregar e arremessar pesos, lutar para se defender e nadar.

O método natural, enquanto disciplina militar, foi posteriormente utilizado pelos bombeiros sapadores franceses como uma forma eficiente de intervirem em situações de crise. Na década de 1980, Raymond Belle, bombeiro sapador francês, transmitiu o método natural ao seu filho, David Belle, para que este continuasse o seu legado na disciplina. Por sua vez, David Belle utilizaria estes ensinamentos como forma de contrariar a ascensão da criminalidade juvenil nos bairros franceses ao redor de Paris, em particular, no bairro onde vivia – o bairro 13.

David Belle absorveu este método e reconfigurou-o sobre a forma de dois lemas basilares: "Ser forte para ser útil" (Être fort pour être utile) – foco na força física e mental com fins altruístas – e "Ser e durar" (Être et durer) – ser produtivo em termos físicos e mentais ao longo da vida. Por outras palavras, na prática de Parkour procura-se desenvolver uma vasta gama de habilidades físicas (força, velocidade, equilíbrio, entre outras) e mentais (resiliência, gestão das emoções, e demais habilidades) através do movimento em contexto urbano ou natural com o objetivo de preparar a mente e o corpo para melhor vivermos enquanto indivíduos e coletividade.

Com estas ideias em mente, o Parkour encontra-se com a cidadania enquanto modelo de orientação das ações, na medida em que se constitui como uma prática que educa/forma o ser humano para aprender a ser, isto é:
para aprender a conhecer [a si próprio através da exploração dos seus limites físicos e mentais (saltar, correr, gerir a ansiedade durante movimentos desafiantes, etc.) e aos outros por via da exploração das relações entre pares e com a comunidade/sociedade (na observação da forma dos colegas realizarem os movimentos, durante a escuta dos comentários das pessoas face aos saltos, etc.)];

para aprender a fazer [é na prática de Parkour que se coloca em ação o conhecimento do eu (ultrapassando os limites de forma gradual e consciente dos riscos, aprendendo com os erros, etc.) e o conhecimento acerca dos outros (gerindo as relações entre os pares por via do diálogo, tanto em momentos de suporte, como de conflito, entre outros cenários)];

e para aprender a viver em comunidade/sociedade [procurando explorar os espaços que são de todos sem desrespeitar as diferenças, gerindo estas diferenças por via do diálogo e da compreensão mútua (respeitar a posição de alguém que solicita que nos retiremos de dado espaço público, a título exemplificativo)].

Para participarem nas sessões de Parkour na Figueira da Foz consultem o website da Naval Remo em https://navalremo.pt/site/o-que-e-necessario-para-praticar-parkour/.

(Miguel Correia)
Licenciado em Ciências da Educação e mestre em Educação para a Saúde, Miguel Correia dedica-se à investigação científica na área das ciências da educação, onde aprofunda tópicos relacionados com a saúde e a cidadania. A par do seu trabalho enquanto educólogo (especialista em educação) é também professor certificado de Parkour na Naval Remo (Figueira da Foz), tendo dedicado os últimos 12 anos à prática desta atividade. Ao longo destes anos fez parte da história do Parkour em Portugal e no mundo (inauguração de Parkour Parques e de Escolas de Parkour, entre outros eventos).

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