Investigação em Santa Olaia revela produção de cerâmica fenícia

Uma investigação sobre o povoado de Santa Olaia, na Figueira da Foz, revelou agora que a cerâmica fenícia aí encontrada nos últimos 100 anos teve produção local, indicando a importação de tecnologia oriental para a zona do Mondego.
“Nós tínhamos a ideia, era o que todas as pessoas pensavam, de que a cerâmica que aqui estava vinha toda de fora. O que nós percebemos, com as análises que se fizeram, e também com a colaboração e com a ajuda que tive de outros investigadores, foi que, na realidade, a maior parte da cerâmica fenícia que aqui está é produzida aqui, no sítio e na região”, explicou à Lusa Sara Almeida, investigadora do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP).
As conclusões fazem parte da tese de doutoramento intitulada “Dinâmicas culturais na área de influência do Mondego durante o I milénio a.C.”, apresentada na segunda-feira na Universidade de Coimbra, que revisita a presença fenícia na região e a sua interação com os povoados locais.
Para clarificar a importância da descoberta, Sara Almeida explicou que a evolução tecnológica do sítio se percebe com a comparação com zonas afastadas das ocupadas por fenícios, onde se encontrou maioritariamente cerâmica manual, ou seja, feita sem recurso a maquinaria.
Para a investigadora, sem a influência da cultura fenícia, existiria apenas cerâmica “quase toda manual, um repertório muito reduzido, peças pouco variadas, que é o que acontece na maior parte do território do interior e que está afastado” do povoado.
Segundo a tese, a instalação dos fenícios, entre os séculos VII e V a.C, no vale do Mondego, em Santa Olaia, introduziu tecnologia de ponta para a época, incluindo fornos de cerâmica de dupla câmara, que permitiam separar o lume das peças, possibilitando controlar a temperatura do forno com mais facilidade e desta forma obter uma cozedura mais regular.
A cozedura da cerâmica de produção simples resultava em peças de tom cinzento-escuro, devido ao contacto direto com o fogo, mas os fenícios, utilizando a tecnologia de cozedura que trouxeram, não iam obter essa cor. Por isso, criaram propositadamente peças do mesmo tom.
Além das peças cerâmicas apresentarem este tom escuro, não deixavam de ser finas, o que mostrava que eram moldadas com recurso a tornos de produção cerâmica, neste caso, os tornos “mais antigos que se conhecem”, no que é atualmente o território português.
Esta combinação encontrada nas peças cerâmicas fenícias demonstra uma evolução tecnológica, mas também a adaptação da produção ao gosto das comunidades locais indígenas, indica a tese.
A investigadora esclarece que nos sítios mais próximos que adquiriam a cerâmica produzida em Santa Olaia, como Conímbriga, Coimbra, Voga, sítio da Agra do Crasto, Castro de Tavarede, entre outros, existe “um impacto duplo” da influência fenícia.
“Não só ao nível dos bens de consumo, mas também das próprias tradições produtivas, ou seja, à medida que essas comunidades vão adotando essas inovações técnicas, elas vão se diferenciando das outras comunidades do interior, que estão tecnologicamente muito mais atrasadas”, acrescentou.
Oriundos da região do atual Líbano, os fenícios expandiram-se pelo Mediterrâneo e pela fachada atlântica da Península Ibérica, em busca de recursos minerais e metais preciosos, estabelecendo entrepostos comerciais.
Através destas redes, comercializavam bens como vinho, azeite, conservas de atum, cerâmicas e objetos de adorno.
Embora o protagonismo deste entreposto comercial fenício tenha diminuído partir do século III d.C., a área manteve relevância simbólica, hoje refletida na capela de Santa Eulália, que preserva a memória espiritual do Monte de Santa Olaia.

Foto: DR

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