Deus, seus homens

Olá a ti, (a)teu de dias de rua
de gira-discos que tocam incessantemente
músicas sem sonância,
só riscos e mais riscos
na esperança da agulha
há toda a perseverança
dos que andam pela rua
de tantas coisas que há por aí
ruas demagogicamente perdidas
eu, tu
e?
a sorte "muda"
de entradas em saídas
tu que tens conversas
e que nem as sabias
que não preconizas
nem agonizas
colocar uma vírgula
uma reticência
um ponto
um final
haja complacência,
Deus fez-te assim
passeias no meu corpo de teorias a teoremas,
de joelhos frios e feridos a lábios intrépidos e bem mordidos,
de arranhaduras e arranjitos,
produtos nunca ditos
tocando-nos, tornas-nos assim
inauditos

esfregas-me com as tuas mãos pequenas e calinas
teorias e mais teorias e mais teoremas,
ideiazinhas
essas coisinhas
ideias outras, por um lado
por outro, ideias queridas

tudo o que mais me faz
mais me esquece em mim

quando me lembro de ti
recordo que sempre
ensinaste-me a acordar
a por a corda a saltar
ensaiaste-me a amar
desmaiaste-me a tentar
num amor de praia desértica do que
por mim adentro se perde per si

e foges de nuvem em nuvem
em grupo
é cada um por si
até à mais alta estrela-Anfitrite
porque essa é a única que não conseguimos apanhar
essa inconsonância de grafite.

toca o telefone, pergunto-me: meu Deus, és tu?
eu vi-te?
Oh Deus, vais-me tirar daqui?
Oh Deus, quem chamas tu ao teu altar?
Tudo perguntas que um dia serão o sal do meu mar
e a areia das palmas das "grutas" da minha mão
tusso, bramo, urro
burro, inteligente, capaz, tanto faz
nada e tudo
paz
és a única razão de eu me e não achar
resquícios de ti que ainda me pairam neste imenso dar
as lágrimas que verteste na nascença da minha carne
as que da renascença do meu espírito
fizeram-me amar-te e dar-te e ser-te
uma por uma
um por um
no ventre morno
na ossatura fria
meio vivo
meio morto
meio vida
com vida em meios vivida
Deus, sem os homens, será glabra
será assim?
ouvi dizer que sim
contemos do que do coração já sabemos
não importam os números
nem as letras
nem tampouco os resultados
posso falar de outra forma?
estes vocábulos tornam-me tornado
posso pagar de outra forma?
estes trocos dão-me jeito,
gosto de trocos, sabes, já de trocas não
trocas Deus pelos Homens?
paga o teu preço de outra forma,
por amor a ti
à tua forma
ao que fizeste e que fizeram de ti
ao que tens plantado aí bem dentro
num dia ameno
fantasma-cinzento
Cristo, num dia triste
sorrindo por dentro
no teu apertado jardim
Por amor a todos os homens.
" Eu tento, eu tento"
não sejas assim
Deus, sem os homens
Não há amor a Deus, sem ti.
Não há amor? Adeus, a ti.
Lamento.
Só sei de mim.
Só sei sendo-o assim.

 

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